Foi no susto que Roberta Cristina da Rosa, a zagueira Beta, ficou sabendo que estava grávida. Logo depois da parada da Série A1 do Brasileirão em virtude da pandemia do coronavírus, exames apontaram que ela esperava seu primeiro bebê e, a partir daí, as dúvidas começaram. A mais forte, revelou a jogadora do Grêmio, é recorrente entre atletas mulheres e dificilmente atinge os homens: a de perder o emprego quando há um filho a caminho.
— A primeira coisa que pensei foi na profissão. A gente usa nosso corpo, é nosso instrumento de trabalho. Foi um susto por isso. Como eu vou trabalhar grávida? Foi o que mais pesou na hora. Mas o clube me deu tranquilidade para não me preocupar no momento, fiquei bem aliviada — contou à reportagem de GaúchaZH.
A sensação de insegurança de Beta foi amenizada pelo respaldo oferecido pelo Grêmio e também pelas garantias da Constituição Trabalhista, já que o elenco foi profissionalizado em 2018 – ano, inclusive, em que Beta foi campeã gaúcha com as gremistas. O questionamento sobre o futuro da carreira, no entanto, foi comum entre colegas de profissão.
— As atletas vinham me parabenizar e perguntavam: "E agora, como vai ser teu trabalho? Te mandaram embora?". Já tiveram meninas que foram dispensadas, abandonadas por seus clubes. O lado bom da profissionalização é que eu tenho a lei do meu lado, mas sentia medo de contar que estava grávida no meio dessa parada. Ainda bem que o clube foi super tranquilo, me deixou segura. Fiquei muito aliviada por não ser deixada de lado. Eles estão super dispostos a me ajudar, principalmente nesta fase de exames e tudo mais — relatou Beta.
A maternidade no futebol ainda é tabu. No ano passado, o assunto recebeu maior destaque – além da importância do tema, a reflexão foi endossada devido à grande repercussão da Copa feminina disputada na França. Atleta do Orlando Pride, Sydney Leroux recebeu críticas depois de postar foto em suas redes sociais treinando aos cinco meses de gestação. A pressão foi tão grande que ela reagiu aos comentários:
— Só faço treinos sem contato físico e não me coloco em situações em que a bola pode me atingir. Nada de corrida de alta intensidade e ouço a minha obstetra (que sabe mais do que as pessoas que ficam me dizendo o que eu deveria ou não fazer com o meu corpo). Eu ainda tenho que responder pessoas ignorantes. 99% dos que criticaram meu treino são homens — escreveu em seu Twitter.
Após a Copa, Alex Morgan, que recebeu a chuteira de ouro após ser bicampeã mundial com a seleção norte-americana, anunciou a gravidez. Em fevereiro, com sete meses de gestação, ela treinava para se preparar para a Olimpíada, programadas para junho – mas adiadas para 2021 devido à pandemia do coronavírus.
Beta completou há pouco 28 semanas de gestação e segue treinando. O grupo gremista tem feito as atividades ainda de maneira virtual. E a zagueira ganhou um treino adaptado: de segunda a sexta, ela faz sessões de 40 minutos de exercícios orientados pela comissão técnica gremista.
— Continuei os treinos, mas claro que algumas atividades eu não consigo fazer. Faço dentro das minhas possibilidades. Minha ginecologista me recomendou continuar, pediu que eu não parasse. Além de manter a forma, ajuda no parto — explicou.
Théo Roberto, como o filho será chamado, deve chegar em novembro. A zagueira espera que consiga conciliar a carreira com maternidade, embora ainda não tenha parado para pensar em como será sua vida depois que o menino nascer. O que ela almeja, porém, é que sua gravidez abra portas para que outras atletas reflitam sobre ser mãe.
— Somos seres humanos. Nós, mulheres, estamos na condição de poder ser mãe. Acho que muitas meninas que sonham ser mãe retardam esse momento por conta da profissão. O que aconteceu comigo pode ser uma janela para outras meninas serem mães também, pois o clube dá assistência. Eu acredito que, à medida que o tempo vá passando, mais para frente, terá um respaldo seguro para todas. Tu adia muitos momentos da tua vida por medo, receio de perder o emprego. Hoje em dia, tem que viver, temos que ser mais compreendidas. Não podemos abrir mão de sonhos — finalizou.