Não foi neste ano que o Grêmio conquistou o inédito título da Copa São Paulo de Futebol Júnior. Entretanto, a campanha encerrada nas quartas de final, diante do Corinthians, deixou uma certeza ao clube: o meia-atacante Jhonata Robert precisava ser comprado. Assim, o Tricolor exerceu a opção junto ao Barra-SC, antes mesmo que o empréstimo chegasse ao final, neste 31 de janeiro. Com boas atuações e dois gols marcados — um deles, em um chute forte de fora da área contra o Oeste —, o camisa 10 chamou a atenção até mesmo do Alavés, da Espanha. O que pouca gente sabe é que o garoto de 19 anos tem uma deficiência auditiva que lhe reduz a 70% a capacidade em cada um dos ouvidos.
— Foi muito complicado no começo. Sofri bullying no colégio, em treinos. Como eu era novo, ficava triste e chorava. Hoje em dia, isso não me abala. Agradeço à minha família por ter me ajudado e me dito que isso não iria me atrapalhar — conta Jhonata, que interrompeu o período de férias na praia de Bombinhas, para atender à reportagem de GaúchaZH.
A deficiência de Jhonata é genética, herdada do avô e do pai. Isso, no entanto, não o impediu de ir atrás do sonho de se tornar jogador de futebol. Natural de Recife, o garoto foi descoberto pela escolinha do CT do Barão, que já revelou, entre outros, o centroavante Raniel, do Cruzeiro, e o atacante Otávio, vendido pelo Inter ao Porto, de Portugal, em 2014. De lá, aos 15 anos, rumou para Santa Catarina, até chamar a atenção do Grêmio, em outubro de 2017. Porém, o Tricolor levou algum tempo até detectar a deficiência.
— A gente acabou descobrindo aqui. A comissão técnica passava orientações e, algumas, ele não ouvia. Aí fomos atrás, para investigar. Perguntamos a ele, que disse que realmente tinha este problema. Levamos ao médico e começamos a trabalhar a questão — relata o coordenador das categorias de base gremistas, Francesco Barletta.
Como foi perceptível ao longo da campanha do Grêmio na Copinha, a dificuldade em ouvir não é um empecilho para seu desempenho. Com a camisa tricolor, Jhonata já disputou o Brasileirão de Aspirantes, o Campeonato Brasileiro Sub-20 e a Copa RS, mais recentemente.
— A deficiência não tem atrapalhado no dia a dia, nem nos jogos. Pelo contrário, ele aumenta ainda mais a concentração em relação aos outros jogadores. Mas a gente sempre avisa a arbitragem, porque tem lances em que ele pode entrar impedido e pode não escutar o apito. Avisamos para que ele não tome um cartão por causa disso. É um atleta de muito boa qualidade técnica, com uma capacidade de resolução de problema muito grande — descreve Barletta.
Como todos os meninos da sua idade, Jhonata se espelha em Neymar para driblar os adversários. O que não o impede de mirar exemplos mais próximos dentro do Grêmio: Jean Pyerre e Luan.
— Jean tem uma qualidade sem explicação. Luan, também, é ídolo da torcida. Já tive a oportunidade de jogar com os dois. Quero poder seguir o caminho deles, fazer minha própria história e, um dia, dar alegrias ao torcedor do Grêmio — destaca o jovem meia-atacante.