Entre o Gre-Nal do primeiro turno, quatro meses atrás, e o deste domingo, no Beira-Rio, o Grêmio deixou pelo caminho o projeto de conquistar o hexacampeonato da Copa do Brasil. No meio da semana, ao empatar com o Santos, saiu do G-4 do Brasileirão e, mais preocupante, distanciou-se cinco pontos dos líderes. Quem discorda, porém, de que, passados 120 dias daquele 12 de maio, o time de Renato Portaluppi se mantém como o melhor em atividade no país?
Aquele clássico, disputado na Arena, e precedido de uma comovente homenagem das duas torcidas ao ex-presidente Fábio Koff, morto dois dias antes, foi o primeiro de uma série de jogos em que, antes de buscar a vitória, os adversários do Grêmio tratavam de não perder. Uma semana depois, em Curitiba, o Paraná repetiu a mesma estratégia e arrancou outro empate sem gols. Defensor-URU, Fluminense e América-MG fariam o mesmo. O modesto time uruguaio vendeu caro a derrota por 1 a 0, dentro da Arena, assim como o de Belo Horizonte. Renato, que havia acusado o Inter de jogar como time pequeno, perdia-se em lamúrias.
— Como se abre a defesa adversária? Quando se tem um jogador com as características de um jogador como o Messi — ensinou, ao mesmo tempo em que lamentava não dispor no elenco de um jogador com tais características.
Apesar das dificuldades, o time seguiu em evolução. Em junho, na 13ª rodada, quando o Brasileirão foi interrompido por força da Copa do Mundo, o Grêmio era o quinto colocado, "no pelotão de cima", como exigira Renato. Como as atenções da equipe se dividiam com Copa do Brasil e Libertadores, o mais importante, raciocinava o técnico, era manter-se ao menos perto dos primeiros colocados no Brasileirão.
Quando o Mundial da Rússia se encerrou, Arthur já havia se despedido e Marinho, trazido do futebol chinês, era a única cara nova do elenco. Desde as primeiras chances recebidas, ficou claro que não se tratava do jogador sonhado por Renato para abrir as defesas. A compensação veio com Jael, que desbancou André, e Everton, cuja performance de excelência o levaria à Seleção Brasileira.
Ainda assim, o Grêmio caiu ante o Flamengo nas quartas de final da Copa do Brasil e precisou dos pênaltis para eliminar o Estudiantes-ARG e avançar na Libertadores. Órfã de Arthur e com Luan em dificuldades técnicas, a torcida reconhecia uma queda de rendimento do time na comparação com o mesmo período no ano anterior. Pela primeira vez, algumas das decisões de Renato sofriam contestações de quem senta nas cadeiras da Arena. Das três competições simultâneas, que impunham uma complicada logística e hora extra dos preparadores físicos e fisiologistas para deixar em dia a musculatura dos jogadores, restaram duas. Dirigente tarimbado, o vice de futebol Duda Kroeff valoriza a outra metade do copo. Otimista, entende que, ao desperdiçar a chance de conquistar mais uma taça, o Grêmio ao menos ganha mais fôlego para as outras disputas.
— Não deixa de ser um fator favorável, embora não quiséssemos isso. Duas competições é menos difícil do que três. Mas o Inter melhorou muito. Tentaremos os três pontos para chegar perto da liderança — promete Duda.
Entre os jogadores, também existe a convicção de que o adversário agora está mais encorpado. Líder, o Inter tem seus méritos reconhecidos por Ramiro.
— A situação é bem diferente. A equipe deles vem em um momento muito bom. É nítido que tem um crescimento no trabalho, um trabalho coletivo muito forte. Vamos com respeito, mas buscando a vitória — afirma o volante.
Palavras respaldas por Pedro Geromel:
— O Inter está de parabéns pela campanha que vem fazendo, com o time muito bem definido, um sistema de jogo. Os jogadores estão sabendo se portar nesse sistema e vai ser um grande jogo.
Passadas 18 rodadas entre o Gre-Nal do primeiro turno e o do segundo, Renato não percebe mudanças em sua equipe. Reconhece o crescimento do rival, mas não deixa de se incomodar com a necessidade de comparações. Quinta-feira, após o empate com o Santos, esquivou-se de responder a uma pergunta por entender que ela remetia ao primeiro Gre-Nal, quando acusou o Inter de apequenar-se.
— O que mudou você tem de perguntar ao Internacional. O meu time continua o mesmo. Queria saber se o Inter estivesse próximo da zona de rebaixamento vocês tocariam nesse assunto. Vamos mudar o foco, gente. O Grêmio está bem no campeonato brasileiro, o Inter está bem, parabéns para eles — desconversou.
O resultado do clássico deste domingo determinará o tom das próximas entrevistas.