Futebol é mais do que um jogo. O futebol é a manifestação dos resquícios coletivistas da aurora do homem. O futebol permite que entremos em uma tribo, em um clã, uma família, que tenhamos um brasão, um escudo e, principalmente, um adversário. Futebol é um teatro que ilustra a natureza humana. E uma de suas mais belas peças é o Gre-Nal.
O Gre-Nal é tão lindo, poético, vibrante e apaixonante porque fala de nossa cultura e natureza. O Gre-Nal é a manifestação controlada do primitivo que existe dentro de nós. É nossa tribo, nosso clã, nossa família contra o adversário que nos faz fronteira. Por isso, lamento, nada diminui tanto o Gre-Nal quanto a torcida mista.
A lógica da torcida mista é compreensível. Uma mensagem contra a violência. Porém, como toda tentativa de solução, ela cria novas problematizações: ela coloca lado a lado atores que querem, ao menos durante 90 minutos, ser inimigos mortais.
Pergunte aos colorados e gremistas o que eles acham da torcida mista. Entretanto, pergunte ao torcedor que está sempre na Arena e no Beira-Rio. Não o público de jogo de seleção que, parece, frequenta a torcida mista.
Toda tensão e ansiedade que um indivíduo pode experimentar em uma vida é superficial se comparada ao que se sente nas horas que antecedem um
Gre-Nal. A partida termina, mas o nervosismo não se esgota com o apito final do árbitro. Ele continua durante horas – ainda mais para aquele que sai derrotado. E essa experiência quase transcendental não é possível se houver algum tipo de cumplicidade entre os torcedores.
Gremistas querem reafirmar que são campeões do Mundo e da Libertadores também – como se o Inter não fosse. Colorados querem bradar que são o "Clube do Povo" – ainda que todas as pesquisas recentes apontam o Grêmio como o favorito em todas as camadas sociais.
A torcida mista parece uma manifestação narcisista e bairrista da FGF. Uma tentativa de afirmar para o Brasil que temos o maior clássico. Algo que não é necessário. Afinal, são os gremistas e colorados que querem derrotar e humilhar um ao outro – dentro da farsa teatral que é o futebol, é claro – que demonstram o quão gigante é o Gre-Nal.