A final do Gauchão de Futsal 2023 deixará um ídolo do futsal gaúcho com o coração dividido. Pablo Ribeiro, 44 anos, começou a carreira na terra natal, Uruguaiana, mas foi na ACBF que se consolidou ao conquistar diversos títulos, entre eles o Mundial, de 2004, e da Liga Futsal, em 2001 e 2004. Quando se trata de estaduais, foram três, em 1999, 2001 e 2004.
Atualmente aposentado das quadras, o ala saiu da Uruguaianense em 1997 direto para Carlos Barbosa, onde somou sete temporadas em duas passagens. Pelo time da Fronteira Oeste, ele não deixa de ter alcançado um feito histórico: participou do grupo que foi terceiro colocado na Série Ouro de 1995, a melhor posição conquistada pela Uruguaianense até 2023.
Em entrevista à GZH, Pablo avalia as campanhas de ambas as equipes neste ano e relembra fatos e nomes que marcaram a sua trajetória — como jogador, ele atuou na melhor fase do futsal do Rio Grande do Sul, entre os anos 1990 e o início dos anos 2000.
Você conseguiu acompanhar os jogos do Gauchão deste ano?
Sim, com o coração dividido. Comecei lá em Uruguaiana em 1995. A gente teve uma passagem muito boa no Gauchão. Pegamos a Enxuta, de Caxias, numa semifinal e acabamos em terceiro. Foi onde a Uruguaianense chegou mais longe. Agora estou mais feliz ainda por ser em uma final contra a ACBF. Para mim, é uma felicidade imensa. Não consegui ir ao jogo em Uruguaiana, mas, agora, poderei acompanhar em Carlos Barbosa.
A qualidade técnica do time da ACBF te chama atenção?
Eu acredito que teve uma mudança do ano passado para esse ano. Teve a saída de vários jogadores. Perde qualidade. A ACBF sempre foi um clube conhecido por contratações de jogadores de alta qualidade, de seleção brasileira. Esse ano ficou um pouco abaixo, mas é sempre a ACBF. A vinda do (André) Bié no meio do ano acabou acertando o time. E o time chega forte. A camisa é muito pesada. Eu, que estive desse lado, sei como é. Passei sete temporadas jogando na ACBF e conquistando todos os títulos possíveis. Do outro lado, a Uruguaianense, que faz uma grande campanha. Que vença o melhor.
É a primeira vez que a Uruguaianense chega a uma final do futsal adulto em 33 anos. É um feito histórico para a cidade, não é?
A minha felicidade é muito grande por isso. Eu sou apaixonado por Uruguaiana. Nasci lá. Com 15 anos, eu já estava no time principal. Fiquei três anos lá. Em 1997, a ACBF me contratou. A Uruguaianense merecia. Sempre investiu no Gauchão. É difícil enfrentar os grandes, mas jogo é jogo, final é final. A gente espera um grande público. Aqui na Serra tem muita gente da Fronteira que acredito que possa comparecer no ginásio domingo de manhã.
É uma época diferente da nossa. Eu joguei com Choco, Fininho, essa turma toda. Pelos Gauchões antigos, passaram grandes jogadores.
PABLO RIBEIRO
Ex-jogador de futsal
Quais as principais lembranças que você tem do tempo em que conquistou títulos na ACBF?
As lembranças são as melhores. A gente perde muitos jogos, mas acabamos conquistando muito títulos. Eu, na ACBF, fui muito feliz. A família é de Carlos Barbosa. Consegui, principalmente, títulos pessoais. Duas vezes o melhor jogador do Brasil. Fui um dos melhores do Mundial de 2004 também. É uma honra ter vestido essa camisa e ter convivido com tantas pessoas. Tem o Ildo Paludo, que é do Clube do Kioske, que foi o presidente que me contratou. A gente tem uma amizade muito grande, com treinadores, jogadores.
Voltando ao Gauchão de 2023, quais são os melhores jogadores do campeonato na sua opinião?
Da ACBF, o Murilo é um dos destaques do futsal brasileiro. O Mithyuê, que também tem grande capacidade de resolver. Em Uruguaiana tem grandes jogadores também. No Estado, a gente tem o Atlântico, de Erechim, que hoje é um dos principais times do Rio Grande do Sul, a própria Assoeva. No Rio Grande do Sul, a gente aproveita para ver grandes jogadores. É uma época diferente da nossa. Eu joguei com Choco, Fininho, essa turma toda. Pelos Gauchões antigos, passaram grandes jogadores.
Você teve o auge no final dos anos 1990 e início dos anos 2000, período no qual o futsal do Rio Grande do Sul era considerado o melhor do Brasil. De lá para cá, isso muito um pouco. Hoje, se diz que o melhor futsal seria o do Paraná. Você concorda com isso? Se sim, onde o Rio Grande do Sul tem errado?
Eu acredito muito no planejamento que as federações e os clubes têm. Eu acho que se perdeu muitos clubes do Rio Grande do Sul, que faziam parte do Gauchão, e eram grandes clubes. Lagoa Vermelha, Nova Prata, Enxuta, Uruguaiana, Itaqui, Não-Me-Toque com o Russo Preto, Carazinho. Todos tinham grandes jogadores. Tinha o Inter/Ulbra, com Ortiz, Morruga. A gente espera que um dia volte a ser como antes.
Você encerrou a carreira em 2014, na Itália. É muito diferente jogar na Europa e no Brasil?
Muda bastante. Saí no final de 2004 do Rio Grande do Sul e fui para a Espanha. Fique sete temporadas na Espanha. É diferente, mas a gente se adapta. O futsal espanhol, o russo e o italiano são muito fortes. É importante para o atleta viver isso.
De lá para cá, tem sentido falta das quadras?
No começo, sim, principalmente nos primeiros três, quatro ou cinco anos. A gente sente bastante falta. Depois, vai se adaptando, começa a trabalhar. Vai dando menos saudades. Mas é bom estar no ginásio e acompanhar uma final.