Aos 29 anos, Antonia é um dos 11 nomes que irá representar a Seleção Brasileira em uma Copa do Mundo, pela primeira vez. No ciclo de Pia, a então zagueira ganhou oportunidade no sistema defensivo e não saiu mais da lateral direita. Mas para quem vê as atuações da titular da posição talvez nem imagine que sua transição para o futebol de campo é recente ou até mesmo tardia. Ao longo da carreira, ela passou por diversas adaptações até conquistar a chance de vestir a amarelinha.
Nascida em Pau dos Ferros, mas criada em Riacho de Santana, no Rio Grande do Norte, Antonia Ronnycleide da Costa Silva iniciou os primeiros passos no futsal. Aos 14 anos, já era um dos destaques nos Jogos Estudantis da região. Foi então chamada para atuar pelo ABC, de Natal. Mas a história da potiguar seria trilhada longe de casa e em outro cenário.
Em 2009, aos 15 anos, foi buscar o sonho em São Paulo. Vestiu as camisas de Tiger/Portuguesa, São José e São Bernardo, ainda no futsal. Em 2017, já dos 22 para os 23 anos, trocou o tênis de futsal para calçar as chuteiras de trava. O processo iniciou na passagem pelo Valinhos, mas se consolidou na Ponte Preta, à época comandada por Ana Lúcia Gonçalves.
— Ela não gostava muito do futebol de campo. Ela não sabia muito a posição, queria jogar de volante. Mas, nos treinos, eu disse que ela tinha muita noção de marcação, não tinha medo de marcar, e que ela tinha de ser zagueira. E foi aí que tudo começou. Ela se destacou muito. Foi eleita a melhor zagueira no Paulistão, entrou para a seleção da Federação Paulista. Toda vez que falamos, ela diz: "obrigada, profe. Você faz parte disso" — contou Ana Lúcia à reportagem de GZH:
— Acho que o maior crescimento dela é a confiança. No início, ela era um pouco insegura por não ter vivido o futebol de campo. Eu sempre acreditei muito na preparação física e mental. E ela se destaca muito nestes dois aspectos.
Pela Ponte Preta, além da premiação individual, chegou até às semifinais do Paulistão. Mas o ano de 2017 ainda reservava coisas maiores. Nos meses finais, foi contratada para atuar na já extinta parceria entre Corinthians/Audax. Essa parceria rendeu um título de Libertadores, conquistada no Paraguai.
A temporada também foi coroada com uma primeira oportunidade na Seleção Brasileira. A convocação para período de treinos e observações foi sob o comando de Emily Lima, atualmente no comando da seleção feminina do Peru. As duas tiveram um contato anterior no São José, quando a treinadora trabalhava com o futebol de campo e Antonia jogava futsal.
De São Paulo para o mundo
Em 2018, já afirmada como zagueira, Antonia seguiu se destacando individualmente. Disputou o Brasileirão pelo Audax e terminou eleita com uma das melhores defensoras do torneio nacional, mesmo com a equipe eliminada ainda na primeira fase. A sequência do ano teve como destino a Amazônia. Pelo Iranduba, de Manaus, conquistou o terceiro lugar na Libertadores.
Já em 2019, a atleta da Seleção Brasileira despontou para um dos principais clubes do país, o São Paulo. Foram apenas seis meses com a camisa do clube paulista, mas com atuações decisivas como destaca Lucas Piccinato, o técnico do clube à época:
— Tínhamos duas zagueiras consolidadas na equipe e ela chegou para ser esse ponto agregador. Acabamos até mudando o esquema por conta dela. Chegou tomando conta. Ela tem uma capacidade técnica e leitura de jogo muito alta. Transformamos ela em uma zagueira pela direita, e jogando de lateral em alguns momentos. Até então, acho que ela tinha jogado pouco como lateral na carreira, mas no São Paulo jogou bastante. Teve um papel muito importante e nos ajudou a chegar à final do Paulistão.
Além dos aspectos técnicos, Piccinato é mais um profissional a destacar o fator de grupo como uma das principais características de Antonia.
— O ambiente deve estar maravilhoso, não apenas pela Antonia. Tem muitas jogadoras "resenheiras" na Seleção. O clima deve estar muito bom, especialmente pelos jogos da data Fifa, contra Inglaterra e Alemanha. A Antonia tem muito isso, de erguer o clima do vestiário. Ela encaixou muito bem no esquema da Pia. Tem boa saída de bola para romper essa primeira linha da adversária, consegue apoiar bem no ataque e o principal: tem uma capacidade defensivamente muito boa, no um para um. Fico muito feliz de poder ver ela jogando como titular na lateral da Seleção — destaca.
A passagem no tricolor paulista abriu as portas para que a defensora alçasse novos voos. Na temporada de 2020, foi para o futebol espanhol para defender as cores do Madrid C.F.F. Durante o período, voltou a ser convocada pela técnica e aos poucos garantindo vaga na construção do ciclo para a Copa do Mundo.
No ano passado, foi uma das peças fundamentais do sistema defensivo na campanha da Copa América. Consolidada na lateral direita, atuou em cinco dos seis jogos e ajudou a Seleção a conquistar o título, de forma invicta, e sem nenhum gol sofrido.
Desde então, Antonia também veste as cores de outro clube da Espanha, o Levante.
Sinônimo de orgulho
Quando entrar em campo no próximo dia 24, na estreia da Seleção Brasileira contra o Panamá, Antonia não estará apenas atingindo mais um feito na carreira, mas escrevendo um capítulo na história de seu povo. Ela será apenas a segunda atleta potiguar a disputar uma Copa do Mundo de futebol feminino — Suzana foi a primeira na década de 90.
Diante do fato, a prefeitura de Riacho de Santana decretou ponto facultativo nos órgãos da administração municipal para os dias em que o Brasil estará em campo pela Copa do Mundo.