O Grêmio inicia o mês de junho com um cenário de alerta. Em pouco mais de seis meses, o clube registrou uma sequência de lesões ligamentares e ruptura de menisco em seu grupo feminino. Além dos problemas no principal, atletas do sub-20 tiveram o mesmo diagnóstico. Ao todo, já são 10 casos registrados. GZH consultou o departamento sobre a situação e ouviu especialistas.
Dois novos boletins médicos foram divulgados nesta sexta-feira (2). A zagueira Isa Oliveira teve ruptura do ligamento cruzado anterior (LCA) e do menisco no joelho esquerdo, enquanto a meia Dudinha rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo. As duas atletas estavam na disputa do Campeonato Brasileiro sub-20.
Estes casos somam-se aos de duas outras atletas. As meias Bia Amaral e Joice não foram relacionadas para o torneio nacional pois já estavam de fora dos gramados em recuperação de lesões de LCA.
Na equipe principal, o técnico Felipe Endres já perdeu seis atletas ao longo da temporada por lesões. Um dos primeiros casos foi o de Lorena. Em março, a goleira titular da equipe e da Seleção Brasileira, foi diagnosticada com uma ruptura no ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo. Por conta do tempo de recuperação, de até nove meses, ela está fora da temporada e da Copa do Mundo Feminina.
A situação também atingiu atletas que chegaram ao Rio Grande de Sul nesta temporada. Depois de fazer sua estreia contra o Bahia, a zagueira Nágela foi diagnosticada com lesão no ligamento cruzado anterior e no menisco do joelho direito em um dos treinamentos. A meia Manu Balbinot, que atuou em apenas cinco jogos, está em tratamento após a ruptura do menisco lateral do joelho esquerdo.
Na lista de jogadoras entregues ao DM, dois nomes estão revivendo o mesmo problema. A meia Pri Back precisará passar por um novo procedimento cirúrgico. Logo após o seu retorno, na partida contra o Santos, no mês de abril, ela sofreu estiramento no joelho esquerdo. Antes disso, a atleta havia passado quase um ano afastada por conta de uma ruptura do ligamento cruzado anterior — o mesmo problema de agora.
Além deste novo diagnóstico de Pri Back, Sinara deparou com o mesmo quadro neste ano. Em abril, a lateral foi submetida a uma intervenção cirúrgica para a reconstrução do ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo. Ainda, em maio de 2021, ela sofreu uma ruptura no mesmo ligamento e local. Agora, o tempo de parada é estimado em até nove meses.
Por fim, a situação mais recente do elenco principal foi a de Dani Ortolan. A atacante foi diagnosticada com lesão de ligamento cruzado anterior do joelho direito após a partida contra o Athletico-PR, pelo Brasileirão Feminino. O tempo estimado de recuperação é de nove meses.
Lista de atletas lesionadas:
- Lorena, goleira: ruptura no ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo;
- Nágela, zagueira: ruptura no ligamento cruzado anterior e no menisco do joelho direito;
- Sinara, lateral: ruptura no ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo;
- Pri Back, meio-campista: passou por procedimento cirúrgico para correção do ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo. É um caso reincidente;
- Manu Balbinot, meio-campista: ruptura do menisco lateral no joelho esquerdo;
- Dani Ortolan, atacante: ruptura do ligamento cruzado anterior do joelho direito.
Sub-20
- Isa Oliveira, zagueira: ruptura do ligamento cruzado anterior e do menisco no joelho esquerdo;
- Dudinha, meio-campista: ruptura no ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo;
- Bia Amaral, meio-campista: ruptura do ligamento cruzado anterior;
- Joice, meio-campista: ruptura do ligamento cruzado anterior.
Posicionamento do Grêmio
Consultado, o clube informou, por meio de nota, que está atento às situações das atletas. Afirmou ainda que está realizando trabalhos preventivos para reduzir o número de casos. Conforme o Departamento de Ciência, Saúde e Performance, o índice de lesões do ligamento cruzado anterior em mulheres é maior quando comparado aos atletas das equipes masculina. Confira a nota.
O Grêmio informa que segue atento às incidências de lesões nas atletas das Equipes do Futebol Feminino. O Departamento de Ciência, Saúde e Performance (DCSP) tem realizado acompanhamento e análises detalhadas de cada caso, com o intuito de optar por tratamentos mais seguros e adequados.
Ainda de acordo com o Departamento, o índice de casos de lesões do ligamento cruzado anterior (LCA) em mulheres é maior quando comparado aos atletas das equipes masculinas. Com isso, o Clube reforça que está realizando trabalhos preventivos, diariamente, com o intuito de diminuir as incidências.
Importante destacar também que o Grêmio, por meio do DCSP, tem implementado novos projetos e firmado parcerias com instituições médicas para aprimorar a estrutura de atendimento das atletas da equipe profissional e de base, da mesma forma que vem sendo feito no grupo principal masculino e nas categorias de formação.
O que dizem os especialistas
O ligamento cruzado anterior (LCA) é o mais importante do joelho, uma estrutura fibrosa que funciona para ligar os ossos e fornecer estabilidade ao joelho. Ivan Pacheco, especialista em Medicina do Esporte e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, explica que quando há uma ruptura não é possível optar por um tratamento conservador:
— O ligamento cruzado anterior e o cruzado posterior não possuem capacidade regenerativa. Ou seja, eles não se cicatrizam. É necessário reconstruir.
Diante de uma lesão que pode interromper uma temporada inteira de um atleta, ainda não há uma explicação concreta sobre qual é real causa para este tipo de diagnóstico. O que os estudos apontam é que não se trata de apenas um, mas de diversos fatores.
— Tem uma lista grande de fatores que fazem com que as pessoas tenham mais pré-disposição para ruptura deste ligamento, tanto em homens, como em mulheres. Por exemplo, as mulheres por questão hormonal já foi implicado. O tipo de treinamento, o tipo de esporte que se faz. Mas, na literatura, não existe um consenso sobre qual é o fator que faz com que as pessoas rompam o ligamento. Quanto mais competitivo o esporte, maior a chance de ruptura do ligamento cruzado — afirma Pacheco.
O fisioterapeuta Bruno Machado complementa que existem fatores que possuem correlação, mas que necessariamente não são a causa. Ele aponta ainda para uma análise sobre o cenário do futebol feminino, a partir de maior número de jogos e crescimento do nível técnico.
— Maior exposição, mais sessões de treinos e aumento do nível técnico podem ser fatores que contribuem (para a lesão ligamentar).
O fisioterapeuta indica que trabalhos periódicos de treinos adequados, controle de carga e de preparação e força dos movimentos podem ser aliados na prevenção de lesões ligamentares.