A mais importante competição entre clubes do futebol brasileiro está de volta neste final de semana. Vai começar o Brasileirão masculino que celebra os 20 anos da implantação de uma fórmula que mudou a história do campeonato. São duas décadas da chamada "era dos pontos corridos", disputada pela primeira vez em 2003.
A implantação veio para padronizar um dos maiores campeonatos do mundo. Até então, o regulamento do Brasileirão mudava a cada ano. No começo, em 1971, eram 20 clubes. O índice foi crescendo e chegou a incríveis 94 participantes em 1979.
Também fez um caminho inverso e chegou a 16 times, o menor número na história, no módulo verde da Copa União de 1987. Ao longo de 32 edições, entre o início da década de 1970 e 2002, foram 32 fórmulas diferentes. Jornalista do Grupo Globo, o comentarista Sérgio Xavier Filho, considerou a mudança de fórmula um acerto, ainda que fora do tempo.
— Até que a gente demorou demais pra começar os pontos corridos. É uma fórmula universal. O principal benefício é você conseguir organizar o calendário do futebol, dando datas para todo mundo. Você dá 38 datas para todos. Independentemente do rendimento, todo mundo vai conseguir fazer sua programação. Antes não era assim — disse Sérgio.
A decisão pelo fim do formulismo e adoção dos pontos corridos veio nos últimos meses de 2002. E não foi tarefa simples. Houve discussão e ameaças de judicialização pelo então presidente do Vasco, Eurico Miranda. O Grêmio era comandado por José Alberto Guerreiro.
— De uma forma geral, foi melhor para todos os clubes. Mesmo aqueles que, durante a competição, tenham alguns meses de dificuldade, têm a oportunidade de se recuperar. Pior de tudo isso era quando tínhamos aquelas classificatórias e alguns clubes ficavam muito tempo sem jogar, o que é terrível para a vida e o orçamento do clube. Na minha época, sempre havia um medo de virada de mesa e isso acabou — ressaltou Guerreiro.
Em 20 edições já realizadas do Brasileirão neste formato, são 11 títulos dos paulistas, cinco dos cariocas e quatro dos mineiros. Dos grandes centros do futebol no país, o Rio Grande do Sul é o único que ainda não conseguiu ser campeão. A dupla Gre-Nal já foi sete vezes vice — cinco com o Inter e duas com o Grêmio.
Presidente colorado na época dos maiores títulos do clube, a Libertadores e o Mundial de 2006, Fernando Carvalho assumiu a direção pela primeira vez em janeiro de 2003. Justamente no primeiro ano da nova fórmula. Na temporada anterior, o Inter foi um dos maiores defensores da mudança no modelo de disputa.
— O Inter foi um dos primeiros a se adaptar, com muitos sócios que tinham o direito de comprar antecipadamente seus ingressos. O formato de pontos corridos te dá a condição de planejamento tanto financeiro quanto na área técnica, montando teus grupos com antecedência, montando tua comissão técnica, fazendo tua previsão, antevendo as coisas que vão acontecer porque tu tem um calendário pré-definido e sabe que tu vai ter àquele número de jogos — ressaltou Carvalho.
Depois de um sexto lugar em 2003 e um oitavo em 2004, o Inter foi duas vezes vice-campeão em sequência, em 2005 e 2006, perdendo para Corinthians e São Paulo, respectivamente. Outros títulos ficaram no quase em 2009, 2020 e 2022. Fernando Carvalho não tem uma razão clara para explicar a seca gaúcha nos pontos corridos.
— Ocorreram erros flagrantes de arbitragem que, na última rodada, poderiam ter nos dado o título aqui em 2020. Lá em 2005, 11 jogos tiveram de ser realizados novamente. Mas sempre que a dupla Gre-Nal esteve organizada, baseada em processos claros de gestão, ela acabou disputando até o final e sendo postulante ao título — finalizou.
Já era para Inter e Grêmio terem conseguido os seus títulos na era de pontos corridos
SÉRGIO XAVIER FILHO
Jornalista do Grupo Globo
Sérgio Xavier Filho vai um pouco na linha da subjetividade, mas ressaltou a organização.
— Acho que a gente teve muito azar. Já era para Inter e Grêmio terem conseguido os seus títulos na era de pontos corridos. O Grêmio teve aquela famosa temporada do Celso Roth (2008). Nem era um time para ser campeão, mas encaixou e quase foi. Perdeu fôlego, mas poderia ter sido. O Inter foi vice cinco vezes, acabou na reta final não conseguindo chegar ao título. Clube organizado fortalece a meritocracia e o campeonato por pontos corridos por excelência, ele é meritocrático — definiu o jornalista.
Além de 2008, quando perdeu para o São Paulo, o Grêmio também foi vice-campeão em 2013, atrás apenas do Cruzeiro. Renato Portaluppi também era o técnico.
Grêmio nos pontos corridos
- Participações: 18 (ausente em 2005 e 2022*)
- Melhores colocações: 2º em 2008 e 2013
- 700 jogos
- 295 vitórias
- 180 empates
- 225 derrotas
- 956 gols pró
- 778 gols contra
- 1.065 pontos
- Goleadores: Jonas (40 gols) e Everton Cebolinha (36)
- Técnicos com mais jogos: Renato Portaluppi (223) e Mano Menezes (73)
- Jogador que mais entrou em campo: Marcelo Grohe (205).
*Jogou a Série B
Inter nos pontos corridos
- Participações: 19 (ausente em 2017*)
- Melhores colocações: 2º em 2005, 2006, 2009, 2020 e 2022
- 742 jogos
- 324 vitórias
- 192 empates
- 226 derrotas
- 996 gols pró
- 808 gols contra
- 1166 pontos
- Goleadores: Leandro Damião (43 gols) e Fernandão (42)
- Técnicos com mais jogos: Abel Braga (115) e Muricy Ramalho (106)
- Jogador que mais entrou em campo: D'Alessandro (255) e Índio (212)
*Jogou a Série B