O tempo passou rápido. Em três meses, completará 20 anos do início da Copa João Havelange, que valeu como o Brasileirão de 2000. Um Campeonato Brasileiro chamado de Copa. Tudo para acomodar interesses e fazer com que o torcedor tivesse uma disputa nacional na entrada do século 20.
O projeto
Tudo surgiu ainda ligado ao Brasileirão de 1999. O São Paulo perdeu pontos para o Botafogo por escalar irregularmente o atacante Sandro Hiroshi. Esta medida fez com que o clube carioca escapasse do rebaixamento, e quem caiu foi o Gama. O time brasiliense iniciou uma batalha judicial que entrou 2000 adentro. Foi, inclusive, à Justiça comum, onde encontrou amparo a seu pleito.
Incomodada, a Fifa baniu o Gama de todas competições oficiais de futebol. Por isso, a CBF abriu mão de realizar o Brasileirão de 2000 e passou o comando ao Clube dos Treze. A entidade decidiu então aumentar o número de participantes de 20 para 24 clubes, trazendo de volta o Fluminense, que estaria na Série B, por ser campeão da Série C em 1999; o Juventude, outro rebaixado em 1999; o América-MG, rebaixado em 1998; e o Bahia, terceiro colocado da Série B de 1999. Assim, criou-se a Copa João Havelange.
O Gama, então, conseguiu nova liminar para jogar a competição e somente nove dias antes do início do campeonato, depois de recorrer e não levar, o Clube dos Treze fechou acordo com o time do Distrito Federal e anunciou uma única competição, reunindo mais de cem clubes de todo o país.
Os números
Foram quatro módulos: o azul (Série A), com 25 times, o amarelo (Série B), com 36 times, o verde (Série C), com 28 times, e o branco (na época, também Série C e que hoje seria uma espécie de Série D), com 27 times, totalizando 116 equipes.
Fórmula: 25 times no Módulo Azul se enfrentaram em turno único e 12 passaram às oitavas de final com times dos outros módulos. 36 times no Módulo Amarelo, divididos em dois grupos de 18. Passavam oito de cada chave, seguindo mata-mata até a final e classificando três para a disputa com os outros módulos. Módulos Verde e Branco com 55 times, divididos em diversas chaves até apurar-se um único time para as fases de mata-mata contra outros módulos.
1.065 jogos
2.970 gols (média: 2.79 por partida)
Média de 11.546 pagantes por jogo
Período:29/07/00 a 18/01/01
Campeão: Vasco da Gama (RJ)
Vice: São Caetano (SP)
Módulo Azul: 1.º lugar - Cruzeiro (MG)
Módulo Amarelo: 1.º lugar - Paraná (PR)
Módulos Verde e Branco: 1.º lugar - Malutrom (PR)
Final adiada em uma competição feita para acabar
A Copa João Havelange nasceu morta. Tanto que na época o próprio Clube dos Treze deixava claro não ter a menor intenção de realizar sua segunda edição.
— Foi a solução encontrada para resolver uma situação emergencial — definiu o então presidente da entidade, Fábio Koff.
Em 2001, o Clube dos Treze deveria assumir de vez o campeonato e criar a liga brasileira. Não foi adiante. A CBF retomou as rédeas, e o Gama só caiu em 2002, dentro de campo, com desempenho ruim.
Chegaram à final da Copa João Havelange Vasco e São Caetano. Os cariocas fizeram a quinta melhor campanha no Módulo Azul e nos mata-matas deixaram para trás Bahia, Paraná e Cruzeiro. Os paulistas ficaram em segundo Módulo Amarelo, atrás apenas do Paraná. Nas fases eliminatórias despacharam Fluminense, Palmeiras e Grêmio.
Depois de 1 a 1 no primeiro jogo, no Parque Antártica, os times se preparam para a grande final no Rio de Janeiro. Eurico Miranda tirou o jogo do Maracanã e levou para São Januário que, no dia 30 de dezembro de 2000, superlotou. Já com bola rolando, e com 0 a 0 no placar, torcidas organizadas do Vasco entraram em confronto e parte da grade de separação do estádio foi destruída. Cento e cinquenta pessoas ficam feridas. O jogo foi suspenso e depois de muitas reuniões, uma nova partida foi marcada para 18 de janeiro de 2001. Jogadores importantes do Azulão já haviam deixado o clube, como Claudecir (Palmeiras) e Adhemar (futebol alemão). O Vasco mostrou superioridade e venceu por 3 a 1, sagrando-se campeão.
Dupla Gre-Nal
O Grêmio foi mais longe. Chegou às semifinais depois de ficar em 10.º no Módulo Azul. Nas fases de mata-mata, passou por Ponte Preta e Sport. Caiu para o surpreendente São Caetano, perdendo os dois jogos: 2 a 3, em São Paulo, e 1 a 3, no Olímpico. Ronaldinho era destaque naquele time treinado por Celso Roth, que tinha também, entre outros, Danrlei, Anderson Lima, Marinho, Nenê, Zinho, Warley, Eduardo Costa e Rodrigo Mendes.
O Inter ficou na frente do Grêmio no Módulo Azul, foi nono colocado. Mas nas etapas eliminatórias caiu antes, nas quartas de final, diante do Cruzeiro, depois de despachar o Athletico-PR na fase anterior. O time treinado por Zé Mário era comandado dentro de campo por Elivélton, Fábio Rochemback, Fabiano, Hiran, Marcelo Rosa, Leandro Guerreiro, entre outros.
Legado
Se até começar a Copa João Havelange foi uma confusão só, depois da final, em janeiro do ano seguinte, ela serviu de exemplo para o futebol brasileiro tomar um rumo decisivo nos últimos 20 anos: organização. A partir do Brasileirão de 2003, tomando forma em 2001 e 2002, o campeonato passou a ser disputado por pontos corridos e dura até hoje. Nada de formulismo. Os clubes sabem com antecipação como será a disputa, quantos jogos farão, em casa e fora, quanto receberão de patrocínio, e podem se planejar dentro de um calendário de ano inteiro. O legado do Gama e da Copa JH.