Se o Brasileirão 2025 tivesse uma trilha sonora teria muito forró, axé e frevo. Ritmos nordestinos. O sertanejo do centro-oeste brasileiro não teria uma faixa sequer no disco, CD ou playlist, para os mais modernos. O mapa do torneio mudou. A divisão por regiões se centralizou. O cenário também apresenta encolhimento das equipes do Sul.
Com cinco representantes, o Nordeste chega com força inédita na Era dos pontos corridos. Somente a região Sudeste, com 12 equipes, terá mais clubes. Os nordestinos serão representados por Fortaleza, Vitória, Bahia, Ceará e Sport, os dois últimos egressos da Série B — Mirassol e Santos foram os outros dois que subiram. O fortalecimento de uns significa o enfraquecimento de outros. No caso, o centro-oeste, sem representantes, e o Sul, que contará apenas com equipes gaúchas.
A centralização nunca foi tão forte. Somente Sul, Sudeste e Nordeste participarão da competição. Entre 2003 e 2005, as cinco regiões brasileiras foram contempladas com participantes no Brasileirão.
Em um olhar macro, fica difícil achar uma razão específica para o crescimento de clubes de uma determinada parte do país. São um conjunto de medidas, consequências e coincidências que levam a um quadro inédito. Será a primeira vez desde 2003 que o Nordeste irá superar o Sul no número de representantes. Naquela temporada, o Brasileirão era mais gordo, com 24 participantes. No ano seguinte, o Vitória era o único nordestino. Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, juntos, contavam com oito clubes.
Carlos Eduardo Mansur, comentarista do SporTV, aponta algumas justificativas.
— É difícil no contexto do futebol brasileiro relacionar a questões regionais e locais. Parece que, como os Estaduais e regionais ocupam um pedaço menor no calendário e menor produção da geração de receita destes times, eles têm menos influência. São fenômenos isolados. O futebol hoje premia os melhores projetos esportivos e a melhor capacidade de investimento que cada clube tem, isso está ligado ao tamanho de torcida e à gestão.
Caso a caso
Os dois casos mais emblemáticos são os de Bahia e Fortaleza, classificados para a Libertadores. Foi a primeira vez que dois clubes do Nordeste terminaram entre os 10 primeiros colocados do Brasileirão.
O crescimento do Bahia está intrinsecamente ligado aos milhões aportados pelo Grupo City, dono da SAF do clube. O Fortaleza apresenta um modelo de gestão consolidado de longo prazo. Os cearenses se transformaram em SAF, mas, até o momento, sem investimento externo. De uma forma ou outra, os dois tiveram neste ano os maiores orçamentos de sua história e têm quebrado seus recordes de valores pagos em contratações.
O Vitória, o terceiro nordestino no Brasileirão este ano, ainda tem um modelo mais tradicional. Porém, vinha de anos de superávit e redução da dívida, sequência encerrada no ano passado.
Espelho nos rivais
Sport e Ceará tiveram folhas salariais polpudas, para os padrões da Série B, nas últimas temporadas. Os pernambucanos começam a se organizar para se transformarem em SAF. No fim deste ano, o estatuto do clube foi modificado. Agora, permite que possa virar uma sociedade anônima do futebol. Modelo que está em ritmo acelerado para ser adotado pelo rival Náutico.
— É um cenário diferente de 2021 quando esteve no Brasileirão pela última vez pelo investimento elevado. O Pepa chegou no segundo turno brasileiro. Deve seguir no clube. A meta é ficar na Primeira Divisão e almejar algo maior no ano seguinte — comenta Yuri Teixeira, repórter da Folha de Pernambuco.
O Ceará também tem um espelho. Fortaleza.
— Faltava trabalhador fora de campo, entender que a gestão potencializa o aspecto esportivo. É isso que o Fortaleza fez e virou espelho para muita gente. O Fortaleza mostrou que olhando para a gestão é possível fazer muito com pouco, em um processo de continuidade, assertividade nas contratações, investimento em inteligência e oferecer serviços ao torcedor — explica Alexandre Mota, repórter do Diário do Nordeste.
Inter, Grêmio e Juventude preparem as malas porque em 2025 vão viajar muito pelo Nordeste. E não será a turismo.