Uma forma de ingresso na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) - extinta nos últimos nove anos - será retomada a partir de 2024. Trata-se do Processo Seletivo Seriado (PSS), no qual o estudante, além de acessar a graduação por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e do vestibular tradicional, também tem a opção de fazê-lo a partir de três provas, cada uma realizada em um dos anos do Ensino Médio.
A mudança já ocorre na próxima seleção, marcada para os dias 13 e 14 de janeiro de 2024. A divulgação do edital com os detalhes e a abertura para o cadastro dos candidatos interessados estão previstos para ocorrer ainda em outubro. A expectativa da instituição é de que 20 a 30 mil pessoas se inscrevam no novo formato.
Qualquer aluno que estiver cursando o 1º ano do Ensino Médio no Brasil pode participar dessa modalidade de seleção. Ele deverá, contudo, escolher entre municípios específicos para fazer a prova anual: Santa Maria, Frederico Westphalen, Palmeira das Missões e Cachoeira do Sul, onde há campi da UFSM, além de Porto Alegre, Florianópolis e Curitiba.
— Você se cadastra no processo seletivo seriado e, no ato da inscrição, escolhe uma cidade para fazer as provas — explica Jerônimo Tybusch, pró-reitor de Graduação da universidade.
Os exames no PSS serão exatamente iguais aos que os candidatos do vestibular padrão encontrarão, e serão aplicados na mesma data e horário. O estudante que tiver feito as provas do 1º e do 2º ano do Ensino Médio poderá, a partir da análise da sua pontuação até aquele momento, definir se, no 3º e último ano, concorrerá à vaga na UFSM pela modalidade seriada ou pela tradicional, além de poder, também, tentar o ingresso pelo Sisu.
Como são necessários três testes, sendo um em cada ano, para concluir o processo seletivo seriado, os primeiros estudantes acessarão a graduação nesse formato somente em 2026. Por isso, em 2024 e 2025, 70% das vagas na universidade serão preenchidas pelo Sisu e 30% por vestibular, também retomado em julho. A partir de 2026, 40% serão ocupadas pelo PSS, 30% pelo Sisu e 30% pelo vestibular.
A expectativa da UFSM é que a mudança reduza a evasão dos graduandos, que cresceu, com a adoção do Sisu.
— O Sisu até gerou um bom preenchimento das vagas, mas a evasão também cresceu, ainda que a média de estudantes que abandonam os cursos da UFSM seja inferior à nacional. Isso acontece porque o candidato, quando se inscreve na chamada regular, pode verificar se tem média suficiente para ser aprovado no curso que quer, e, se não tiver, pode escolher outro curso. Isso provoca a escolha de graduação menos vocacionadas — explica Tybusch.
Já no PSS, a ideia é que a realização de provas anuais, em vez de uma única, gere aproximação e acompanhamento maiores das comunidades escolares em relação à universidade.
— A retomada dessa modalidade acontece porque nós sentimos, com o tempo, a necessidade de voltar a ter uma proximidade mais intensa com a Educação Básica. Não que não existisse antes, com projetos e ações, mas, se você tem um programa de ingresso que acompanha o Ensino Médio nos três anos, você tem uma oportunidade grande de aproximação com a Educação Básica e desenvolve possibilidades de construção conjunta — avalia o pró-reitor de Graduação.
Inspiração em modelo antigo
O PSS é inspirado no Programa Especial de Ingresso ao Ensino Superior (Peies), vigente de 1994 a 2014. A diferença entre as iniciativas é que, na extinta, era preciso que as escolas se cadastrassem previamente, para que, então, seus alunos participassem da prova. Agora, não: o próprio estudante faz o cadastro, independentemente da instituição em que está matriculado.
O Peies foi estruturado a partir, justamente, de uma demanda de trabalho conjunto entre a universidade e a comunidade onde estava inserida, a fim de melhorar a formação dos adolescentes e trazê-los para dentro da instituição de Ensino Superior.
— Nós convidamos titulares e assessores das delegacias de Ensino Médio para nos trazerem sugestões e desenvolvemos, então, esse modelo, que consistia em avaliações feitas ao final de cada ano, nas escolas, e que terminariam em notas consideradas para a ocupação das vagas no curso que o aluno escolhesse — recorda Carmen Fontana, que era pró-reitora de Graduação na época e foi uma das idealizadoras da iniciativa.
O desenvolvimento do modelo foi pedido à pró-reitoria pelo então reitor da UFSM, Odilon Antônio Marcuzzo do Canto. Sua preocupação, na época, era com a busca por uma forma mais igualitária de acesso ao Ensino Superior.
— Como dizer que estávamos dando o direito constitucional e igualitário à educação para o estudante que vinha de uma cidadezinha qualquer do Interior, sem dinheiro nem para parar em um hotel, passando horas dentro de um ônibus para fazer o vestibular, que ficava lado a lado com outro estudante que vinha com o carro da família, com todas as condições? Foi por isso que começamos a estudar as possibilidades, em um projeto com o envolvimento das escolas — conta o ex-reitor.
Com o Peies, as escolas cadastradas realizavam as provas nas suas próprias estruturas, a fim de evitar deslocamentos, e os professores da Educação Básica recebiam capacitações que lhes permitiam preparar melhor os alunos de Ensino Médio para o processo seletivo. Para Marcuzzo, o formato possibilitou que pessoas que não conseguiriam fazer o vestibular também pudessem concorrer às vagas.
— Fiquei muito triste quando o Peies foi extinto e recebo a notícia de sua retomada com a maior alegria. Acho que é o reconhecimento de um programa que estava dando certo, e o uso desse modelo também por uma instituição com a Universidade de São Paulo (USP), anunciado recentemente, é como um selo de qualidade. Quando vejo uma universidade de alto nível com um sistema nessa linha, me sinto satisfeito e orgulhoso — comenta o ex-reitor da UFSM.
Em São Paulo, além da USP, a Universidade de Campinas (Unicamp) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp) devem adotar a modalidade nos próximos anos.