A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) apresentou para a comunidade acadêmica nesta quarta-feira (30) uma proposta de mudança nas formas de ingresso nas graduações da instituição. Atualmente, com exceção de editais específicos para refugiados e indígenas, o acesso à universidade acontece por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
A proposta, que ainda precisa ser aprovada pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe), prevê que 30% do ingresso aconteça pelo Sisu, outros 30% por um vestibular feito pela UFSM e 40% ocorra por meio de um processo seletivo seriado (PSS) – este último envolve a aplicação de provas parciais entre estudantes ao final de cada um dos três anos do Ensino Médio.
Caso aprovada, a mudança acontecerá de forma gradual até 2026. Será iniciada no segundo semestre de 2023, com a retomada do vestibular para o preenchimento de 30% das vagas e o Sisu para as 70% restantes. Como o PSS prevê a realização de provas parciais ao longo de três anos, esse percentual será mantido até 2025 – a partir do ano seguinte, os três exames já terão sido realizados entre os alunos de Ensino Médio e será possível destinar 30% das vagas para essa forma de seleção. O mesmo candidato poderá concorrer nas três formas de ingresso. Funcionaria da seguinte forma:
- Primeiro semestre de 2023: 100% Sisu
- Segundo semestre de 2023: em julho de 2023, realização de prova vestibular. Ingresso 70% por Sisu e 30% por vestibular
- 2024: realização das provas PSS1 e vestibular. Ingresso 70% por Sisu e 30% por vestibular
- 2025: realização das provas PSS1 e PSS2 e do vestibular. Ingresso 70% por Sisu e 30% por vestibular
- 2026: realização das provas PSS1, PSS2 e PSS3 e do vestibular. Ingresso 40% por PPS, 30% por Sisu e 30% por vestibular
Na proposta apresentada pela universidade, também está prevista a oferta de até 5% de vagas extras para quilombolas, até 5% para pessoas trans e até 5% para pessoas com deficiência. A instituição propôs, ainda, que sejam destinadas vagas para medalhistas de Olimpíadas de Conhecimento, para idosos e para atletas de alto rendimento. Editais específicos para refugiados e imigrantes em situação de vulnerabilidade e para indígenas, já existentes, serão mantidos.
Todas essas mudanças só serão postas em prática caso sejam aprovadas pelo Cepe. A expectativa da reitoria é de que a análise aconteça até fevereiro de 2023, para que a aprovação esteja vigente já em março.
O uso do PSS não é novidade na UFSM, que utilizou essa forma de ingresso, entre outras, como o vestibular, antes de 2014, quando aderiu à seleção pelo Sisu. A Universidade Federal de Pelotas (UFPel) também conta com o Programa de Avaliação da Vida Escolar (Pave) que, na prática, funciona nos mesmos moldes do PSS. Na instituição pelotense, 20% das vagas são preenchidas a partir do desempenho em provas aplicadas durante o Ensino Médio.
Durante o evento de apresentação da proposta, o reitor da UFSM, Luciano Schuch, destacou que julga ser importante a revisão constante da forma de ingresso na universidade e que, com o Sisu, as instituições têm enfrentado altas taxas de evasão de estudantes.
— Por mais que permita um acesso democrático para alunos de qualquer lugar do país, sempre enxergamos que o Sisu gerava uma falta de identidade do estudante com a instituição. Essa discussão já existe há alguns anos especialmente nos campi fora da sede: quanto mais se vai para o Interior, mais difícil o aluno do Sisu se identificar com aquela cidade e permanecer — relata o reitor, que verificou a mesma situação nos campi de Frederico Westphalen, Palmeira das Missões e Cachoeira do Sul.
Schuch observou que, diferentemente de 15 anos atrás, hoje dificilmente os estudantes precisam se deslocar mais de 200 quilômetros para chegar a um campus de uma instituição de Ensino Superior pública, devido à criação de universidades e institutos federais no Interior. Por isso, entende que o aluno que sai de outro Estado para estudar em Santa Maria o faz por opção, e que esse cenário precisa ser levado em conta na hora de se definir o processo seletivo.
— Queremos mais o sentimento de pertencimento, e que o aluno esteja vocacionado para aquele curso. Queremos que ele escolha o curso que deseja e vá atrás da nota, e não o contrário — explica o reitor.
Formas de ingresso variadas
A forma de ingresso varia muito em cada uma das instituições federais gaúchas. Das sete universidades, quatro utilizam, atualmente, apenas o Sisu como forma de ingresso regular, com exceção para processos específicos de ações afirmativas: a UFSM, a Universidade Federal do Rio Grande (Furg), a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) e a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Nenhuma das três últimas tem discussões em andamento, hoje, para mudar seus processos de seleção.
Nas outras três universidades, duas utilizam parcialmente o Sisu para preencher suas vagas – a Universidades Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que adota o sistema para ocupar 30% das posições, e a UFPel, que o utiliza para 80% das vagas, enquanto os outros 20% são definidos por meio do Pave. Há, ainda, vestibulares específicos na instituição para quilombolas e indígenas. Também não há debates acontecendo para modificar a forma de ingresso nessas instituições.
Já na Universidade Federal do Pampa (Unipampa), realiza-se uma Chamada por Nota do Ensino Médio, específica da instituição. Uma comissão permanente foi criada para se debater a adesão ao Pave, adotado pela UFPel. Não há prazo para essa definição.
Nos institutos federais, a escolha de formas de ingresso também é diversa. No Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), a depender do campus, a seleção acontece com prova própria, por sorteio ou por uso da nota no Enem. Também há uma seleção para cursos de Educação de Jovens e Adultos (EJA) a partir de informações sobre a situação escolar e de vida dos candidatos.
No Instituto Federal Sul-riograndense (IFSul), a seleção, até então, se dá com 50% das vagas preenchidas a partir de um vestibular de redação e 50% pelo Sisu. Se as vagas não são preenchidas, é feita uma seleção pelas notas do Ensino Médio. Para o ano que vem, a tendência é de que o processo seja modificado e seja feita uma prova normal por áreas de conhecimento.
No Instituto Federal Farroupilha (IFFar), a seleção acontece a partir da nota no Enem. Os candidatos podem escolher o resultado de qualquer prova entre 2009 e 2022.