As mudanças que começaram a ser implementadas no Ensino Médio neste ano terão impacto também no acesso ao Ensino Superior. A principal diferença do novo currículo desta etapa é que os estudantes escolherão uma área de conhecimento para se aprofundarem em parte da sua carga horária. Com isso, as provas de ingresso em graduações que sejam iguais para todos os candidatos também deverão sofrer modificações a partir de 2024. Atentas a isso, universidades já debates novos formatos para seus vestibulares.
Entre as instituições de Ensino Superior públicas, boa parte já utiliza a nota no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em seus processos seletivos. É o caso das universidades federais de Pelotas (UFPel), Rio Grande (Furg), do Pampa (Unipampa), da Fronteira Sul (UFFS) e de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs). Nelas, a mudança será automática, uma vez que o governo federal já anunciou uma reformulação da prova por esse motivo.
Há, porém, aquelas instituições que contam com vestibular próprio para parte das vagas, como a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e estabelecimentos privados. Nesses casos, já estão ocorrendo debates para avaliar se e quais mudanças serão necessárias.
Procurada, a UFRGS informou que a a Pró-Reitoria de Graduação fará uma série de reuniões para tratar sobre o assunto. Por enquanto, porém, ainda não há uma definição se haverá alterações ou não no tradicional vestibular da instituição.
A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), por sua vez, vem realizando adaptações em seu vestibular desde 2020, por conta da pandemia. Atualmente, o exame consiste em uma prova de redação online para todas as áreas do conhecimento, exceto no curso de Medicina, que ainda conta com processo seletivo presencial, questões objetivas e prova de redação. A instituição privada não descarta desdobramentos nessa seleção causados pelo Novo Ensino Médio. A PUCRS ainda conta com a opção de ingresso utilizando a nota do Enem para todos os cursos.
Na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), o impacto da reforma nesta etapa de ensino vem sendo discutido em várias frentes, segundo a gerente de Desenvolvimento do Ensino da Unidade Acadêmica de Graduação, Cristiane Schnack. Está sendo feito, por exemplo, o debate nas licenciaturas, para entender o perfil do profissional que precisará dar conta desse novo contexto de escola, e sendo trabalhada a aproximação da Unisinos da construção dos itinerários formativos em algumas escolas, para entender suas realidades e angústias.
Além disso, a instituição de ensino pretende identificar quais serão as mudanças no perfil do aluno que chegará ao Ensino Superior, diante dessa reforma, e qual será a prova ideal para selecioná-lo.
— Temos trabalhado muito com a redação ao longo da pandemia. Agora, estamos em um momento de avaliarmos se esse seguirá sendo o modelo da nossa prova. Há uma tendência de que a prova de redação se torne o nosso carro-chefe para o ingresso, já que ela trabalha a capacidade de se fazer a relação entre diferentes habilidades do aluno na hora de formular um raciocínio — analisa Cristiane.
A discussão também ocorre na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que hoje utiliza as notas do Enem, mas fará uma série de seminários de avaliação de questões ligadas à graduação entre abril e maio que pode culminar em uma mudança no formato do processo seletivo. Será um debate amplo, sobre assuntos que começam no pré-ingresso – ou seja, a capilaridade da instituição junto à Educação Básica –, passam pela forma de ingresso, pelos índices de permanência dos estudantes, pela diplomação e terminam na política para egressos da universidade.
De acordo com o pró-reitor de Graduação da UFSM, Jerônimo Tybusch, a instituição tradicionalmente teve uma alternância entre as formas de ingresso ao longo do tempo. Como o ingresso por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que usa a nota do Enem, é utilizado desde 2014, a universidade entendeu que deveria abrir espaço para a avaliação desse formato.
— Já tivemos provão vestibular, o Programa Experimental de Ingresso ao Ensino Superior e o processo seletivo seriado, por exemplo, que poderia ser uma possibilidade de evitar a evasão e aproximar a UFSM da Educação Básica — cita Tybusch.
No processo seletivo seriado, eram realizadas provas ao final de cada um dos três anos do Ensino Médio, o que, conforme o pró-reitor, é uma possibilidade que tem a simpatia de muitas pessoas da instituição. Ele relata que, no caso da adoção de um processo seletivo próprio, como um vestibular, será necessário que a prova seja revista, de forma a considerar as mudanças trazidas pelo Novo Ensino Médio, como, por exemplo, a presença de alunos que terão realizado a etapa integrada a uma formação técnica.