Um Ensino Médio diferentes chega às escolas de todo o Brasil neste ano letivo. Com a reforma, iniciada em 2018 e com implementação gradual a partir de 2022, uma das novidades é a existência de quatro novas disciplinas obrigatórias no currículo: Projeto de Vida, Mundo do Trabalho, Cultura e Tecnologias Digitais e Iniciação Científica. A intenção é que esses componentes curriculares deem aos adolescentes acesso às habilidades necessárias no século XXI.
No RS, a matriz curricular aprovada pela Secretaria Estadual de Educação, que serve como diretriz tanto para as escolas públicas como para as privadas, prevê que os alunos do primeiro ano do Ensino Médio tenham aulas de Projeto de Vida, Mundo do Trabalho e Cultura e Tecnologias Digitais. No segundo e no terceiro ano, serão oferecidos Projeto de Vida e Iniciação Científica.
Além das novas disciplinas, os alunos seguirão tendo aulas dos componentes curriculares antigos, como Língua Portuguesa, Matemática, Educação Física e Biologia, mas com uma carga horária obrigatória menor. Os estudantes também terão uma parte do currículo mais flexível, em que poderão escolher entre algumas possibilidades de áreas de aprofundamento.
Segundo a secretária estadual de Educação, Raquel Teixeira, a mudança permitirá um maior protagonismo juvenil e o desenvolvimento integral do aluno.
— No modelo antigo, a gente partia do princípio de que todos têm o direito de saber a mesma coisa. Por isso, o Brasil criou um modelo em que todos os alunos eram obrigados a fazer as mesmas disciplinas, algo que não existe em nenhum lugar do mundo. Esse modelo se mostrou falido: gerou evasão e não preparou os alunos para a vida, e é isso que está mudando — defende Teixeira.
A Seduc tem oferecido capacitações online nos novos componentes curriculares aos professores da rede estadual desde o ano passado.
Projeto de Vida
Esta será a única disciplina, entre as quatro novas, obrigatória em todos os três anos do Ensino Médio. Serão oferecidos dois períodos por ano.
— É uma disciplina com elementos de competências socioemocionais, vindos da psicologia, da neurociência, da neurologia, que permitem que o aluno pense sobre quem ele é, o que está fazendo aqui e como vai se preparar para o que quer da vida — relata a secretária.
Na ementa da disciplina, entregue às escolas estaduais, são apresentadas as dimensões pessoal, social e profissional do componente curricular. A proposta é que se trabalhe o autoconhecimento, com a construção de identidade e valores, bem como o reconhecimento do estudante como cidadão e suas aspirações e projetos na área profissional.
A recomendação, na ementa, é de que o professor que ministre Projeto de Vida saiba trabalhar de forma interdisciplinar e esteja comprometido “com pensar o mundo da vida, a existência humana, os contextos, as realidades e as vivências individuais e implicações sócio-históricas e que tenham afinidades com os desafios da juventude”. Não há indicação de uma área de conhecimento específica na qual o docente tenha formação para dar essa disciplina.
Mundo do Trabalho
Terá dois períodos e só será oferecida no primeiro ano do Ensino Médio. Apesar de Projeto de Vida já prever reflexões sobre as aspirações profissionais do estudante, é em Mundo do Trabalho que ele fará projetos mais focados nesse setor.
— O aluno vai pensar se ele quer ir para uma área mais técnica ou mais acadêmica. Isso vai ajudá-lo a escolher o itinerário formativo (a parte flexível do currículo) que irá percorrer no segundo e no terceiro ano — explica Teixeira.
Na ementa da disciplina, a Seduc orienta que se dê preferência a professores licenciados em áreas das Ciências Humanas, como Sociologia, Filosofia, Geografia, História e Psicologia, para ministrá-la. O texto informa que é esperado que esse docente abra um “diálogo permanente com a comunidade escolar e com o setor produtivo local” na disciplina.
A ideia é oferecer um espaço para que o estudante reflita de forma mais estruturada sobre seus interesses profissionais, a fim de buscar formas de planejar rotas em direção ao que desejam tendo como base também as realidades local e global. Para isso, são recomendadas metodologias ativas, ou seja, atividades com uma participação maior do aluno.
Cultura e Tecnologias Digitais
Assim como Mundo do Trabalho, esse componente curricular também terá apenas dois períodos e só será oferecido no primeiro ano do Ensino Médio. A intenção é dar acesso aos estudantes a conceitos ligados à tecnologia, suas potencialidades e impactos no mundo cotidiano.
— Vivemos em um mundo híbrido, que é metade virtual e metade real. O aluno do século XXI precisa dessa preparação — defende a secretária.
Na ementa da disciplina, não foi estabelecida uma formação que seja pré-requisito para o professor que a ministre. No entanto, o texto aponta a necessidade de que seja uma pessoa com “fluência digital”, que utilize recursos tecnológicos digitais de modo integrado e se atualize sobre as mudanças tecnológicas.
Ao longo do ano, os alunos receberão noções de áreas como tecnologias da informação e da comunicação, acessibilidade, lógica, análise de dados e elaboração de projetos com o uso de recursos digitais. O entendimento é de que a disciplina sirva para que se aprenda a linguagem digital, como meio para o desenvolvimento de habilidades e competências em outros setores.
Iniciação Científica
A disciplina aparece na matriz curricular do segundo e do terceiro ano do Ensino Médio, com dois períodos em cada ano. Seu objetivo é aprofundar os conceitos fundamentais das ciências, ampliar habilidades relacionadas ao pensar e fazer científico e utilizar esses conceitos e habilidades em procedimentos de investigação voltados à compreensão e enfrentamento de situações cotidianas.
Nessa disciplina, a ideia é que os estudantes participem da realização de uma pesquisa científica. Para isso, deve passar pela identificação de um problema, formular e testar hipóteses sobre ele, selecionar informações de fontes confiáveis, identificar como pode utilizar aquele conhecimento para a solução de problemas e comunicar suas conclusões por meio de diferentes linguagens.
Na ementa, a sugestão é de que os trabalhos envolvam temas como boas práticas nos ambientes de trabalho, o incentivo ao diálogo e à interlocução, a valorização de ações que contribuam para a convivência saudável e o estímulo a atitudes respeitosas e que prezem pela tolerância. Não há definição da formação que o professor que ministrará essa disciplina deve ter.