Uma mudança brusca do "concreto para o abstrato" no ensino de matemática a partir do 6º ano é o que mais causa a perda do interesse dos alunos pela disciplina. Esta é a percepção de Josiéli Pagliosa, professora do ensino médio na Escola Estadual José Bonifácio, em Erechim. Após ser premiada na Olimpíada de Professores de Matemática do Ensino Médio (OPMBr), ela esteve no programa Timeline, da Rádio Gaúcha, na manhã desta sexta-feira (29).
Josiéli foi uma dos 10 medalhistas de ouro da OPMBr, promovida pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). A competição é composta por três etapas: uma prova, uma apresentação em vídeo ilustrando o trabalho desenvolvido em sala de aula e uma entrevista.
— Antes do 6º ano, o professor trabalha com manuseio e depois ele começa a trabalhar no quadro — explicou a professora no programa — O aluno começa a não entender o que é dois vezes três, porque não se trabalha mais a relação da soma com a adição.
É justamente por trabalhar com o concreto que a professora pode ser considerada fora da curva. Ela se destaca por aproveitar situações aparentemente banais para passar conhecimento. Ao trabalhar o conceito de esferas, por exemplo, certa vez Josiéli se utilizou de uma jabuticabeira carregada de frutos na escola. Ela levou a turma para colher as jabuticabas e mostrou os conceitos matemáticos presentes nas bolinhas roxas.
— Claro que você tem que levar a matemática para a abstração, mas o ideal é o quê? Partir do concreto. Para isso, mostrar essa aplicabilidade da matemática, o dia a dia, como ela nos cerca por todos os lados — descreveu a professora.
A brincadeira que vira ensinamento
Em outra situação, um avião de papel voou sobre a cabeça de Josiéli na sala do 3º ano do Ensino Médio. Em vez de repreender os alunos, a professora pediu que eles a ensinassem a fazer o aviãozinho e calculou junto com eles os ângulos, áreas e perímetros das formas geométricas formadas pelas dobras no papel.
A professora também aproveita o uso constante do celular entre os estudantes para passar conhecimento por meio de charadas, perguntas e outras postagens em um canal do YouTube e conta no Instagram. Além disso, utiliza-se de games online e interação também com jogos físicos.
A competição
A premiação da Olimpíada de Professores de Matemática do Ensino Médio (OPMBr) ocorreu nessa quarta-feira (27), após três etapas de avaliação com 600 participantes. Além da Josiéli, ganharam a medalha de ouro representantes dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Paraíba, Maranhão, Pará, Bahia e São Paulo.
Esta é a primeira edição da OPMBr, promovida pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). A intenção do instituto é promover uma melhoria no ensino de matemática no Brasil, país que ocupa a 65ª posição no ranking de 81 países que participaram do último Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA).
Os 1o premiados na OPMBr vão participar de um intercâmbio técnico e cultural de 15 dias em Xangai para conhecer o Centro de Educação para Professores da Unesco (TEC Unesco) na Universidade Normal da China, país que figura sempre entre os de melhor desempenho no PISA.
Além disso, o grupo vai apresentar workshops por todo o país para compartilhar práticas de sucesso em sala de aula.