Mais de um mês após as mudanças anunciadas no Centro Universitário Metodista – IPA, muitos dos alunos seguem sem alternativas para dar seguimento aos estudos, especialmente os bolsistas e os estudantes de baixa renda. Sem conseguir retorno célere da antiga faculdade, há quem tenha refeito as contas para arcar com custos mais elevados em outras instituições de ensino e também aqueles que desistiram dos estudos, mesmo que momentaneamente.
No dia 7 de agosto, o IPA anunciou uma “reestruturação profunda”, informando a descontinuação de turmas consideradas deficitárias. A decisão afetou cursos como os de Enfermagem, Nutrição, Biomedicina e Farmácia, por exemplo. Foram mantidas somente as turmas com formatura para "breve". A instituição, que tem como mantenedora a Rede Metodista, está em recuperação judicial. O endividamento é de R$ 576 milhões, com 11.120 credores.
Passado mais de um mês do anúncio da reestruturação, ainda não está claro quantos estudantes foram afetados com a decisão da instituição nem qual o número de desistências ou o apanhado daqueles que conseguirão formatura. GZH tentou contato com o IPA ainda na manhã de terça-feira (12), mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
Acordos firmados com a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e com a Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) proporcionaram, até o momento, a transferência de 203 estudantes – 173 migraram para PUCRS e os outros 30 para a Ulbra. As duas instituições ofereceram benefícios e financiamento aos graduandos, mas como as mensalidades praticadas são mais altas, muitos não têm condições de pagar.
— Eles (IPA) falaram que tinham encaminhado os alunos, mas foram só os pagantes. Os bolsistas ficaram sem solução — conta Larissa de Campos, 24 anos, que era aluna da Enfermagem e teve que interromper o curso.
Ela conta que, depois de muitas tentativas de contato com o IPA, obteve o retorno no início de setembro.
— Mandaram mensagem dizendo que tentaram conseguir bolsa com outras universidades, mas não conseguiram — relata.
Os estudantes contam ainda que com a Ulbra foi acordado abatimento de 60% na primeira mensalidade para os transferidos. Depois, até o fim do curso, 50% de redução. No caso das universidades conveniadas, a PUCRS não aceita Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), por exemplo, o que impossibilitada a ida de quem tem esta modalidade.
Além das universidades que estabeleceram parceria com o IPA, os estudantes estão buscando outras alternativas, como a Estácio. A instituição informa que está oferecendo o aproveitamento total das disciplinas cursadas no IPA e em torno de 70% de desconto.
Transferência conturbada
Maria Eduarda Jimenez, 21, foi uma das alunas transferidas para a PUCRS. A estudante de Nutrição ficou sem muitas opções, uma vez que o curso não é oferecido na Ulbra e sua turma foi encerrada no IPA. Ela ainda pôde aproveitar o segundo semestre do ano letivo na nova faculdade, mas com menos disciplinas do que gostaria.
— Eu estava indo para o sexto semestre. Consegui me matricular no dia 18 de agosto e minha primeira aula foi no dia 23. Foi praticamente um mês inteiro de aula perdido — destaca.
Isso aconteceu porque a reestruturação do IPA foi anunciada às pressas, conforme os alunos, quando o semestre letivo já havia começado em várias faculdades.
— Foi bem caótico. O IPA demorou bastante para avisar a gente que ia fechar. Quando anunciaram a reunião com a reitora no começo de agosto, alguns professores já nos avisaram para nos prepararmos para o pior. Aí eles falaram que a gente ia ter que sair. Foi tudo muito desorganizado — lamenta.
Segundo a estudante, o IPA perdeu seus dados bancários, o que complicou os trâmites da documentação.
Sem a bolsa social
Maria Eduarda tinha bolsa de estudos de 40% no IPA, o que não acontece na PUCRS. Segundo a instituição, os alunos que possuíam algum benefício no IPA ganharam 35% de desconto, por dois semestres consecutivos, em cima da mensalidade que era paga no IPA.
— No segundo semestre do ano que vem vai ficar mais caro, mas vai dar certo. A equipe da PUCRS ajudou muito no processo, eles estão sendo muito receptivos — diz a aluna.
Larissa não teve a mesma sorte com a transferência do curso de Enfermagem, já que tinha bolsa social de 100% e pagaria valores muito mais altos nas outras instituições.
— Entrei em contato com todas as universidades de Porto Alegre pra ver se tinha bolsa ou desconto, mas infelizmente não consegui nenhuma oferta boa. No momento, não estou trabalhando, porque no IPA eu fazia aula pela manhã e à noite. Se eles tivessem avisado antes, talvez eu teria tido tempo de me organizar, mas não foi possível — conta.
Para Giovana Capp Toledo, 22, aluna de Enfermagem transferida para a PUCRS, a conta vai sair pelo menos R$ 300 ao mês mais cara , já que ela tinha bolsa de 55% no Centro Metodista.
— Todos os meus colegas tinham algum tipo de desconto no IPA. O valor da PUC está dentro das condições que eu poderia pagar, mas me sinto lesada por toda a situação — relata.
É o mesmo caso de Lucas Seeger, 28. O estudante de Farmácia do sexto semestre também fez a transferência para a PUCRS, mas não conseguiu aproveitar todas as disciplinas.
— Minha formatura estava prevista pra 2025/1 e vou ter que fazer um semestre a mais. É mais dinheiro e mais tempo gasto para se formar, um prejuízo financeiro e emocional — afirma.
MEC não oferece alternativa
O Ministério da Educação, que está supervisionando o caso, não relatou nenhuma novidade sobre o andamento da reestruturação do IPA, tampouco apresentou alternativas aos estudantes. Procurada também na terça-feira, a pasta reenviou a nota emitida em agosto para a reportagem. O texto diz que o "Ministério da Educação, por meio da Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (Seres), supervisionará a possível suspensão das atividades acadêmicas e monitorará a transferência dos discentes.[... e que] Caso não haja alternativas de IES receptoras, os alunos devem se adaptar à oferta na IES que tenha se apresentado como receptora, a qual irá ofertar seus cursos conforme os atos autorizativos e normativos".
O que diz a Ulbra
"Todos os estudantes oriundos do IPA que procuraram a Ulbra foram acolhidos pela instituição no campus de Canoas, pois esse processo de acolhimento faz parte do conjunto de diretrizes institucionais da Ulbra, no quesito de encantar o aluno. No total, cerca de 30 estudantes provenientes do IPA ingressaram nos cursos da Ulbra em Canoas”.
O que diz a PUC
“O Acordo de Cooperação da PUCRS com o IPA possibilitou que os estudantes dos cursos com turmas suspensas, com interesse em seguir seus estudos, tivessem condições exclusivas e aproveitamento de créditos e disciplinas na PUCRS. Os alunos que possuíam algum benefício comercial ou bolsa no IPA ganharam 35% de desconto por dois semestres consecutivos em cima da mensalidade que era paga no IPA e os estudantes do ProUni também puderam fazer a transferência para a PUCRS.
Todos que tiveram interesse no processo passaram por uma análise com celeridade para que fossem mais bem acolhidos. Aqueles que quiseram conhecer a estrutura da PUCRS, antes da efetivação das matrículas, foram recebidos pelas comissões coordenadoras dos cursos que tiraram dúvidas e apresentaram as estruturas, como laboratórios e salas de aulas.
Assim que as matrículas foram efetivadas, os estudantes ingressaram em aula e participaram de um acolhimento em cada curso e nas turmas que passaram a integrar. Além disso, desde o ingresso deles na PUCRS houve um olhar importante dos professores para quaisquer necessidades neste período de adaptação. Todas estão sendo avaliadas individualmente e manejadas de modo a acolher os estudantes e buscar alternativas para seu desenvolvimento, prática que conta com suporte do Centro de Apoio Discente da Universidade.”
O que diz o MEC
"Em virtude da reestruturação do Centro Universitário Metodista IPA, o Ministério da Educação, por meio da Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (Seres), supervisionará a possível suspensão das atividades acadêmicas e monitorará a transferência dos discentes. O Fies poderá ser transferido pelo discente para outra IES (Instituição de Ensino Superior), conforme normativos do programa. As Bolsas Prouni também podem ser migradas para outra IES caso exista margem para implantá-las, nos termos da legislação vigente. As demais bolsas fornecidas pela IES possuem regramentos próprios e são de responsabilidade da mantenedora/entidade que as forneceu.
Quanto à transferência dos discentes, caso não haja alternativas de IES receptoras, os alunos devem se adaptar à oferta na IES que tenha se apresentado como receptora, a qual irá ofertar seus cursos conforme os atos autorizativos e normativos.
A IES deverá fornecer documentação acadêmica para os alunos realizarem suas transferências. O site da IES informa que há um cronograma para apresentação de soluções e alternativas, ensejando garantir ao discente a conclusão do curso. Vide comunicado do site abaixo: http://ipametodista.edu.br/."