Com a perspectiva de encerrar as atividades, o Centro Universitário Metodista - IPA fará a transferência dos seus alunos para outras instituições de ensino. Segundo relatos de docentes, a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e a Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) receberiam os estudantes. Com atividades letivas apenas para formandos de último semestre, a instituição manteria a carga horária semanal de seus professores de uma hora/aula, o que representa 50 minutos.
Por enquanto, a Rede Metodista, mantenedora do IPA, não divulgou um comunicado oficial sobre o fechamento. As informações desta reportagem foram trazidas por docentes e ex-docentes e pelo Sindicato dos Professores do Ensino Privado (Sinpro-RS). A PUCRS e a Ulbra também confirmaram que estão em tratativas para firmar um acordo de cooperação que visa acolher os estudantes do estabelecimento em condições especiais.
Esta segunda-feira (7) começou sem aulas no IPA. No lugar delas, reuniões ocorrem desde o início do dia entre representantes da reitoria, da direção-geral da mantenedora, professores e alunos. No site da instituição, um comunicado alertava que avisos seriam enviados por e-mail ao longo do dia.
Diretor do Sinpro-RS, Marcos Fuhr participou de um encontro virtual com representantes da Rede Metodista e relatou que a mantenedora afirma que, apesar da transferência dos alunos para outras universidades, o que ocorre não é um fechamento, mas, sim, uma suspensão das atividades pelo período de 60 dias, para avaliações.
— Ao nosso ver, é uma estratégia para descaracterizar o encerramento da instituição e não precisar pagar a rescisão dos professores. Eles, inclusive, referiram que vão manter uma carga horária residual com os professores, e nós não concordamos com isso. Não tem como retomar as atividades em 60 dias, ainda mais sem alunos — defende o diretor.
Em reunião com o quadro docente, conforme relatos recebidos pela reportagem de GZH, a mantenedora assegurou que não demitirá ninguém, mas manterá uma carga horária mínima para os professores que não derem aula para as turmas formandas. A medida faria parte de ajustes pedidos por um consultor-investidor, de acordo com um educador.
Apesar da tristeza, a situação não causa surpresa para os funcionários.
— É um processo que já vem de longa data. Não adianta tapar o sol com a peneira. Todos que trabalham lá já tinham essa expectativa de que isso viria a acontecer. Mas é uma pena. Um problema decorrente de uma má gestão em uma instituição sempre muito forte e tradicional — lamenta um professor que não quis se identificar.
Entre os trabalhadores, há um misto de tristeza com incerteza. Há quem acredite que o IPA possa ressurgir com outra cara, enquanto outros são mais céticos e pensam que esse é um caminho sem volta. Apesar da confiança na atual reitora da instituição, há receios envolvendo a mantenedora de São Paulo.
Recuperação judicial
Muitos professores atuam há décadas na instituição e sentem uma forte conexão com os alunos e, por isso, se mantiveram lá, apesar da crise financeira que culminou em um pedido de recuperação judicial, em 2021. Esse sentimento acompanha mesmo aqueles que foram demitidos em duas levas, ocorridas em 2016 e 2018. É o caso de um ex-docente que conversou com a reportagem de forma anônima. Ele faz parte de um grupo de funcionários que aguarda há pelo menos cinco anos pelo pagamento de direitos trabalhistas:
— Quando fui demitido, vi que havia vários buracos no pagamento do meu fundo de garantia. O sentimento é de decepção, não tanto com a entidade, mas com a gestão do IPA.
O IPA tem, hoje, oito cursos de graduação presenciais – Biomedicina, Direito, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Nutrição e Psicologia. O Sinpro estima que 70 docentes estejam no quadro funcional atualmente.
Procurada, a assessoria de comunicação do IPA informou, em nota, que as informações sobre o fechamento não são oficiais, e que “a instituição deverá emitir um comunicado sobre o assunto assim que reunir sua comunidade interna”. O texto reforça que as mudanças atingem somente o Ensino Superior, não impactando, por exemplo, o Colégio Americano. O estabelecimento não respondeu quantos alunos atende atualmente nem confirmou sobre a transferência dos estudantes e a redução da carga horária dos professores.
O plano de recuperação judicial da Rede Metodista foi homologado em dezembro de 2022. O endividamento fica em R$ 576 milhões, com 11.120 credores. A maior parte é formada por créditos trabalhistas, que somam quase R$ 400 milhões e 10 mil pessoas prioritárias na lista de pagamento.
Dentro desse plano, a previsão era de venda de ativos não operacionais. Foram vendidos, por exemplo, um terreno e prédios do IPA em leilão realizado no início do ano.