Prestes a deixar o cargo de reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) que ocupou nos últimos quatro anos, Carlos André Bulhões parece feliz: tem alguns bons números a apresentar, reformas a mostrar e um sentimento de dever cumprido. Sobre as críticas que permearam a sua gestão, diz que, dependendo, simplesmente as ignorava.
— No meu primeiro dia, eu cheguei às 7h para trabalhar e, às 10h, começou a tocar uma banda com uma batida. Veio um jornalista lá de baixo e disse “professor, tem um caixão lá com seu nome”. Eu respondi: “Então desça lá e diga que o caixão é meu e que é para não quebrar, porque eu vou usar. Só não vai ser hoje”. Eu não tinha tempo, eu não sei responder em rede social e me concentrava nas coisas da UFRGS. O que eu não reconhecia, não sabia o que era, eu simplesmente ignorava, mesmo. Então, não me afetava. Baixar a cabeça e trabalhar é a melhor forma de responder a críticas — avaliou Bulhões, em balanço de seu mandato apresentado à imprensa.
Na visão do reitor, “o resultado foi sensacional”. Um de seus destaques vai para a ampliação de uma média de 20 mil para mais de 200 mil diplomas entregues em quatro anos pela instituição, fruto do programa Saúde com Agente, em parceria com o Ministério da Saúde, que qualificou mais de 170 mil agentes comunitários de saúde e de combate a endemias para atuar em 5,3 mil municípios.
Outro é a atualização do valor patrimonial declarado da UFRGS. O valor passou de R$ 158 milhões para R$ 2,7 bilhões. Um terceiro, ainda, é a entrega da universidade para a nova gestão da reitoria com um valor previsto em R$ 900 milhões para serem usados em 270 projetos.
— Em geral, esses números não são transferíveis. O pessoal tira o pé do acelerador, e fizeram isso conosco, para gerar dificuldades para a outra administração. Mas eu não estou pensando em administração, estou pensando na UFRGS, essa instituição gigantesca, centenária que estava aqui antes e vai estar aqui depois e, quanto mais eu puder ajudar, melhor — defendeu Bulhões, acrescentando que já está dialogando com a chapa eleita para assumir a reitoria, composta pelos professores Márcia Barbosa e Pedro Costa.
Com um semblante sorridente, o gestor diz que os últimos quatro anos não foram fáceis: teve pandemia, enchente, o pior orçamento da história, problemas políticos “dentro e fora” e, ainda assim, entende que os resultados foram bons.
Um dos números que lhe orgulha é o de redução da evasão dos estudantes, que, no primeiro semestre de 2022, foi o menor da história da universidade: 713, o que representou uma queda de 10%, na comparação com o semestre anterior. A média de evasão da instituição é de 11,2%, inferior à média de 14,6% das instituições federais de Ensino Superior.
Cem processos
Com cem processos movidos contra o reitor nesse período – todos ganhos, segundo ele –, Bulhões não comparecia às reuniões do Conselho Universitário (Consun), as quais teria a incumbência de presidir. O gestor sofreu dois processos de impeachment. Em sua memória, ainda estão negativas do órgão de liberações para que ele fizesse viagens para o exterior. No entanto, diz não guardar mágoa:
— Raiva, sentimentos dessa natureza, não são bons. É bom a gente se concentrar, baixar a cabeça e tentar fazer o melhor possível. Eu quero compartilhar com vocês que foi um privilégio ter trilhado esse caminho desde os anos 1980 e, agora, estar próximo do fim. Dá uma enorme alegria e satisfação.
Sobre os próximos planos, Bulhões prefere não revelar – afirma apenas que tirará as férias que não tirou nos últimos quatro anos.