O trabalho presencial segue sendo a modalidade predominante entre os jovens no Brasil. Apesar de terem aumentado as oportunidades nos formatos remoto e híbrido, os profissionais nessas vagas ainda são minoria. É o que mostra um levantamento global da consultoria Deloitte que traz um panorama sobre escolhas dos jovens no âmbito profissional, englobando a geração Z – os que nasceram entre 1995 e 2004 – e os chamados millennials – aqueles que nasceram entre 1983 e 1994.
A 13ª edição do relatório Gen Z and Millennial Survey 2024 é resultado de entrevistas com 14.468 pessoas da geração Z e 8.373 millennials em todo o mundo. No Brasil, foram ouvidas 800 pessoas, sendo 500 da geração Z. A pesquisa foi conduzida de novembro de 2023 a março de 2024. Modalidade de trabalho, decisões de carreira e trajetória acadêmica, comportamento de consumo e saúde mental são os principais tópicos abordados.
Conforme o estudo, somente 15% dos jovens da geração Z e 11% dos millennials estão em trabalhos remotos. Em relação ao híbrido, estão nessa modalidade 35% dos entrevistados da geração Z e 30% dos millennials. O presencial continua sendo o formato mais forte, com 51% dos jovens da geração Z e 59% dos millennials em vagas presenciais.
De acordo com a consultora de carreira do PUCRS Carreiras e doutora em Psicologia, Thaline Moreira, isso pode ter relação com o período de isolamento social na pandemia, especialmente para a geração Z.
— Muitos jovens passaram boa parte dos últimos anos em atividades remotas, o que pode gerar ansiedade social. Para estes, o home office é um ambiente mais seguro, e pode haver dificuldade no retorno ao presencial. Já os que fizeram todo o Ensino Médio nesse período podem estar sentindo falta do presencial, de ter contato com pessoas. Tem esses dois lados — explica a especialista, que é vice-presidente da Associação Brasileira de Orientação Profissional e de Carreira.
Quanto aos millennials, nos últimos anos, muitos encontraram no trabalho remoto ou híbrido uma forma de conciliar a atividade profissional com tarefas domésticas. Mas a tendência é que a busca por trabalho presencial volte a crescer, segundo Thaline.
O que atrai os jovens no mercado
Estudos têm apontado as preocupações da geração Z em relação à questões políticas e climáticas. O relatório da Deloitte demonstra que esses jovens exercem pressão nas organizações a respeito da proteção do meio ambiente: 60% dos profissionais jovens brasileiros dizem pressionar as empresas para que adotem medidas para contribuir no combate aos efeitos das mudanças climáticas.
Entre as principais preocupações apontadas estão mudanças climáticas, custo de vida, discriminação, desemprego, saúde mental e segurança pessoal por conta da violência. Para a maior parte dos respondentes da geração Z (32%), os efeitos da crise climática representam o principal receio. Para o líder de People & Purpose da Deloitte, Marcos Olliver, isso demonstra uma mudança cultural e exige transformações nas empresas:
— As companhias que não levarem a sério a sustentabilidade ambiental correm o risco de perder tanto talentos quanto clientes. Ao adotar práticas sustentáveis, as organizações contribuem para a mitigação das mudanças climáticas e fortalecem sua reputação e posição no mercado.
Saúde mental também figura como uma das aflições dos trabalhadores. Cerca de 48% dos entrevistados da geração Z e 40% dos millennials responderam que se sentem estressados ou ansiosos o tempo inteiro, ou boa parte do tempo. Segundo Thaline, esses jovens já vêm provocando mudanças no mercado de trabalho, reforçando a importância de haver suporte psicológico e emocional nas organizações.
Para o grupo, o trabalho precisa ter propósito para que haja bem-estar e satisfação no exercício profissional. No total, 91% dos respondentes da geração Z e 92% dos millennials acreditam que é fundamental que a carreira tenha um propósito.
Dificuldade de acesso ao ensino
O acesso ao Ensino Superior ainda é um desafio para jovens brasileiros. Dos respondentes, 32% da geração Z e 23% da "geração do milênio" afirmam que não fizeram curso Superior. Para boa parte, a dificuldade financeira é a principal barreira.
Circunstâncias pessoas ou familiares, a busca por carreiras que não exigem graduação, planos de empreender e o desejo de mais flexibilidade para aprender são outros fatores citados.