Falar sobre sexualidade e relações de gênero pode ser uma tarefa difícil para algumas pessoas, mas os integrantes da geração Z – nascidos entre meados da década de 1990 e 2010 –, tratam esse assunto com mais naturalidade. Conhecidos como nativos digitais, esses jovens têm facilidade para abordar o tema, que até pouco tempo era considerado tabu, com familiares e pessoas de outras gerações. No Dia Internacional do Orgulho LGBT+, comemorado nesta sexta-feira (28), especialistas e membros da comunidade celebram a ampliação desse debate.
Professor do Departamento de Psicologia do Desenvolvimento e da Personalidade e coordenador do Centro de Referência em Direitos Humanos (CRDH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Adolfo Pizzinato acredita que a geração Z, por ter mais contato com a diversidade, é mais tolerante do que as anteriores. Para ele, a internet e as redes sociais facilitam a aproximação dos jovens com esses temas, antes difíceis de serem abordados pelos pais em casa.
— É uma geração que tem mais fluidez de ver e perceber pessoas de referência da cultura jovem, como artistas, músicos e atletas, falando dessas coisas. E isso tende a ser positivo. Acho que aumenta a possibilidade de diálogo, desde que essa oportunidade exista. Não podemos imaginar que uma família autoritária e conservadora, que já não conversa, vá começar a conversar sobre isso — afirma.
Pizzinato pontua que, para os jovens, é mais fácil falar dos outros. Ou seja, comentar de algum colega que se assumiu não binário ou que passou por uma transição pode trazer o assunto à tona de maneira menos assustadora do que abordar a si mesmo. Na casa da aposentada Ivete Barbosa, 56 anos, sexualidade e relações de gênero já faziam parte dos debates familiares muito antes de o filho Anderson Barbosa Soares, 28, se assumir gay. Isso porque a filha mais velha da aposentada costumava contar situações que aconteciam com os amigos, motivando a família a falar sobre os temas.
— Eu tive a sorte de ter uma irmã mais velha que pavimentou muito esse caminho. As discussões já existiam dentro de casa e isso não era um tabu para a nossa família. Isso facilitou muito para mim. Quando chegou a minha vez de conversar sobre, foi de uma forma orgânica e natural. A mãe disse que nada ia mudar e meu pai também teve uma reação positiva — lembra Soares, que se assumiu há sete anos.
Os filhos abrem as nossas mentes
RENATA DOS ANJOS
Coordenadora do movimento Mães pela Diversidade no RS
A família mora em Dois Irmãos, no Vale do Sinos, e o preconceito pelo qual Anderson poderia passar era uma preocupação de todos os familiares. A aposentada afirma que nunca precisou passar por um processo de aceitação do filho, mas sentia medo dos julgamentos que ele poderia sofrer. Apesar de serem de gerações diferentes, Ivete não vê diferença entre a forma que ela e o filho falam sobre sexualidade.
— Acho que agora eles têm mais liberdade, mas no meu tempo não era assim, era mais difícil. Muita gente tem preconceito, mas eu nunca tive. Depois que nós começamos a conversar, eu passei a entender mais. Eu sempre perguntava as coisas e ele tinha medo de se abrir comigo, mas depois começou a falar — conta.
A coordenadora da vertente gaúcha do movimento Mães pela Diversidade, Renata dos Anjos, defende que essa naturalidade só é possível porque as gerações anteriores abriram as portas para que as novas pudessem falar com facilidade sobre o assunto. Segundo ela, o grupo que, entre outras atividades, funciona como uma rede de acolhimento para mulheres com filhos pertencentes à comunidade LGBT+, recebe mães de pessoas cada vez mais novas, provando que o tema tem surgido cedo nos debates familiares.
— Vejo nitidamente que essa geração Z é mais liberta com relação a sua sexualidade e identidade de gênero. Eles se impõem e trazem o assunto para a família. Sei disso porque pais e mães chegam para gente relatando. Quando que eu ia pensar que haveria essa quantidade de jovens fazendo as famílias transformarem os seus pensamentos? Os filhos abrem as nossas mentes — ressalta.