Nesta semana, senadores da Comissão de Educação deram início às audiências sobre o projeto de lei que permite a educação domiciliar, aprovado em maio na Câmara. O debate foi marcado por divergências, uma vez que os defensores destacaram o direito dos pais educarem os filhos da forma que considerarem mais adequada, enquanto os críticos apontaram que o método pode prejudicar o desenvolvimento da criança.
Recentemente, o método de ensino foi tema de uma pesquisa nacional, coordenada pelas organizações Cenpec e Ação Educativa e realizada pela Unicamp e Instituto Datafolha, que revelou que a maioria dos brasileiros não é favorável à educação domiciliar. Para debater este assunto, o quadro Mais Vozes, de quinta-feira (30), no programa Estúdio Gaúcha, ouviu seis opiniões a respeito do tema.
Participaram do quadro Édson Prado de Andrade, advogado, professor de direito e gestor da Associação Brasileira de Defesa e Promoção da Educação Familiar (ABDPEF); Anna Hens, diretora pedagógica; um pai que já adota o homeschooling e que preferiu não se identificar; Eliana Moura, doutora em Educação; uma mãe contrária ao método; e a psicóloga Vanessa Rodrigues Becker Pinto.
Favorável ao ensino domiciliar, Édson Prado de Andrade, advogado e gestor da ABDPEF, afirma que a maioria dos brasileiros tem uma visão "distorcida" do homeschooling. O advogado ainda destaca que a educação domiciliar não é para a maioria, e sim para quem opta por um estilo de vida "diferente". De acordo com ele, a discussão é sobre dar a liberdade de escolha do sistema de ensino.
Anna Hens, diretora pedagógica, defende que a regulamentação trará segurança para as famílias que optam pelo sistema de ensino, uma vez que, de acordo com ela, são alvo de perseguição e julgamento. A diretora também destaca, entre outros pontos, que o ensino doméstico precisa de princípios a serem seguidos, como a educação escolarizada, e que a regulamentação ajudará nisso.
Compartilhando de uma visão semelhante, o pai que já adota o homeschooling afirmou que optou pela educação domiciliar pois, de acordo com ele, o aprendizado ocorre melhor quando se depara com os conteúdos pedagógicos a partir de uma realidade "concreta e pratica". Ele também cita o desenvolvimento físico como fator, pelo tempo em que uma criança passa sentada em sala de aula.
A partir um diferente ponto de vista, Eliana Moura afirma que a educação brasileira tem outros problemas prioritários, agravados com a pandemia. A doutora em Educação argumenta que o homeschooling contraria os "interesses de desenvolvimento pleno" das crianças e adolescentes, pela ausência de socialização e de trocas e que isso pode provocar consequências na vida posterior dos jovens.
Nesse mesmo sentido, a mãe que é contrária à iniciativa diz que a escola é um local coletivo e que, nessa coletividade, as aprendizagens acontecem. Ela também cita que, para muitas crianças, de acordo com ela, a escola é o único local onde serão escutadas e compreendidas e que nesse ambiente, podem ser protagonistas da própria história.
A psicóloga Vanessa Rodrigues Becker Pinto reflete que o homeschooling "coloca um muro" entre a família e o mundo social, afirmando que a criança e o adolescente precisam conviver com o outro. Ela ainda argumenta que, do ponto de vista psicológico, a socialização é fundamental e destaca que a escola está atenta a abusos e violências, que frequentemente são relatadas no ambiente escolar, segundo ela.