O uso de máscara para crianças com menos de 12 anos deixou de ser obrigatório e passou a ser uma recomendação no Rio Grande do Sul. A nova conduta, publicada em decreto do governo gaúcho no sábado (26), divide opiniões entre especialistas, famílias e escolas, que acabaram ficando no centro dessa decisão.
Nesta quarta-feira (2), no retorno das aulas após a folga prolongada de Carnaval e também primeiro dia letivo com a nova regra, o cenário era de apreensão e de muitas dúvidas por parte dos pais e da comunidade escolar. Também já são registradas algumas tensões entre funcionários e familiares que exigem a liberação da máscara durante as aulas.
No La Salle Pão dos Pobres, no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, a maioria dos quase 200 estudantes que acessaram a escola nesta manhã – reservada às turmas do quinto ao nono ano – usava máscara. Uma das exceções era Marcela, de 11 anos, que foi à escola sem o apetrecho por orientação da mãe, a jornalista Maria Cecília Marzullo.
– Eu cheguei hoje e exigi que a deixassem ficar sem máscara. A escola ainda vai ter reunião pra definir, mas eu argumentei que oriento meus filhos em observação ao decreto. Eu quero que minha filha não use. Ela já teve covid esse ano e se recuperou rápido – afirma a mãe.
Segundo o diretor da instituição, Marcelo Figueiró, a Rede La Salle recomenda o uso da máscara e, diante do fim da obrigatoriedade, vai reforçar as ações de conscientização, para que os alunos sigam usando a proteção. Segundo ele, não por obrigação, mas porque entendem o papel do apetrecho na prevenção do coronavírus.
– Eu não concordo, acho que é cedo, a maioria das crianças não está vacinada. Mas se o governador decretou, temos que seguir. Hoje, vai ser um dia com um grande número de pais ligando. Muitos não querem mandar seu filho para uma sala em que tem gente sem máscara – afirma Figueiró.
Uma das preocupações de diretores e funcionários ouvidos pela reportagem de GZH é que crianças, que eventualmente venham sem máscara, sejam constrangidas pelos próprios colegas, criando situações difíceis em sala de aula. Segundo os educadores, desde o retorno do ano passado os estudantes já estão habituados a passar o dia usando o acessório.
Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Larry José Ribeiro Alves, no bairro Restinga, a situação continua tranquila com relação ao uso da máscara. Segundo o diretor Gustavo Vianna, os pais têm sido parceiros da instituição em incentivar os filhos a se protegerem. O único caso de criança sem o apetrecho registrado nesta manhã foi o de um aluno que tinha esquecido de trazer. Ele acabou ganhando uma máscara da escola.
De bicicleta e com o filho de seis anos na garupa, Valdemir Barbosa Santos veio à Prof. Larry para confirmar se haveria aula à tarde. Ela é natural de Manaus e está no Rio Grande do Sul há três meses. Por causa do cenário desolador que vivenciou em seu Estado natal, faz questão que o filho, Arthur, continue usando máscara.
– Ele usa e vamos seguir usando. Nós nós cuidamos, por nós e pelos outros. Eu vi um cenário muito triste, perdi três tias minhas. A covid não escolhe cara, não escolhe entre rico e pobre, ela está por aí – diz Valdemir.
Na Escola Municipal de Ensino Médio Emílio Meyer, no bairro Medianeira, a direção não teve casos de alunos chegando sem máscara nesta manhã. Pelo canal online usado para comunicação com os pais, as dúvidas vêm se acumulando desde o final de semana.
– Nosso canal com os pais está bombando com perguntas. Mas, ao menos esta manhã, todos os alunos que deveriam chegar de máscaras o fizeram. Nós recomendamos que os alunos sigam usando, distribuímos inclusive nas salas para quem quiser. Mas se algum aluno se recusar a usar, não vamos obrigar – afirma a vice-diretora, Maria Angélica Azevedo.
A Escola Polo Infantil foi a única entre as consultadas que segue prevendo a obrigatoriedade do uso de máscaras para crianças com cinco e seis anos. Para os pequenos de três e quatro anos, a utilização é facultativa. A proteção também não é obrigatória para nenhum dos alunos quando estiverem no pátio.
Em outras instituição privadas, o apetrecho não será mais exigido, mas seguirá sendo incentivado. É o caso do Colégio João XXIII, no qual um comunicado foi enviado às famílias dos alunos nesta quarta-feira orientando que estudantes de maternais e níveis multi-idades não serão mais obrigados a usar a máscara, mas que seu uso é recomendável, "em função das interações entre pares e com adultos". Entre crianças do primeiro ao quinto ano, a escola "recomenda e incentiva" a utilização da proteção.
O Colégio Marista Rosário também enviou um comunicado às famílias informando que o uso de máscaras deixará de ser obrigatório da Educação Infantil ao sexto ano. A instituição ressalta, no entanto, que o Comitê Operacional de Emergência (COE) da escola e o Serviço de Infectologia do Hospital São Lucas da PUCRS seguem orientando que o apetrecho, "independentemente da faixa etária, é uma das formas de minimizar a proliferação do coronavírus e, por isso, incentivamos sempre o seu uso nos nossos espaços".
No Colégio Santa Dorotéia, as aulas serão retomadas nesta quinta-feira (3) após o feriado de Carnaval também com a recomendação do uso da máscara, mas sem sua exigência, que "será definida por opção da família". No entendimento da instituição, a proteção é uma "forma importante de proteção para os indivíduos e para a comunidade escolar".
O Colégio Farroupilha enviou comunicado aos pais informando que o uso de máscara de proteção pelos estudantes com idade inferior a 12 anos passa a ser recomendado - e não mais obrigatório - em todos os ambientes da instituição. No texto, destacou que, de acordo com as orientações do serviço de Consultoria do Hospital Moinhos de Vento, a utilização da máscara ainda é importante na prevenção do contágio pela Covid-19, considerando, sobretudo, a variante Ômicron, que apresenta maiores taxas de transmissibilidade, e o recente feriado de Carnaval.
O que diz o decreto
Conforme a orientação, para estudantes maiores de 12 anos o uso de máscara segue obrigatório. Já para crianças de seis a 11 anos, a proteção deve ser apenas recomendada, e não obrigatória. Para menores de seis anos, o entendimento é de que a decisão pelo uso da máscara deve levar em consideração se a criança consegue permanecer com o acessório e se há supervisão para que o utilize de forma correta.
Diante da decisão, as escolas estão diante de um desafio: entender se devem ou não seguir exigindo o acessório em sala de aula. A Secretaria Estadual da Saúde (SES) deve divulgar uma nota técnica orientando as instituições gaúchas até o final da semana. Inicialmente, a previsão era de que o texto fosse publicado na terça-feira, mas acabou sendo adiado pela SES.
Na interpretação do presidente do Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe/RS), Bruno Eizerik, o decreto torna facultativo o uso da máscara e dá autonomia para as escolas definirem se vão ou não continuar exigindo o acessório. O sindicato, no entanto, pede que as instituições exijam o uso de máscara pelos próximos 15 dias.