Os próximos dias ainda serão de incertezas em termos práticos quanto ao cumprimento do novo decreto do governador Eduardo Leite que trata do uso de máscaras pelas crianças. No sábado (26), o texto foi publicado no Diário Oficial do Estado. Para crianças entre seis e 11 anos, a máscara passa a ser protocolo recomendado, mas não obrigatório. GZH consultou as prefeituras dos seis municípios mais populosos do Rio Grande do Sul para saber como deverão proceder a partir da retomada das aulas após o Carnaval. Todas manifestaram a intenção de seguir o novo regramento contra a covid-19, no entanto, em tempos distintos.
Porto Alegre
Conforme a prefeitura, "o decreto publicado pelo Estado - 56.403, de 26 de fevereiro - não altera as regras vigentes e orientações aplicadas em Porto Alegre. Na Capital, é obrigatório o uso de máscara para maiores de 12 anos e recomendado entre três e 12 anos, conforme atualizações da Organização Mundial da Saúde. As regras específicas para o ensino em Porto Alegre constam no decreto municipal 20.747, assim como as normas de prevenção de surtos e cuidados relacionados à covid-19 em instituições de ensino, expedidas pela Secretária Municipal de Saúde (SMS)".
O secretário extraordinário de Enfrentamento à Covid-19 da cidade, Cesar Sulzbach, diz que haverá uma reunião na quarta-feira (2) para definir os protocolos nas escolas. Adianta, no entanto, que as crianças não serão obrigadas a usar máscaras.
– Nós temos a vida real e a vida da lei. As dificuldades que os professores estavam enfrentando nesse período todo fizeram com que isso fosse reavaliado. Até porque a recomendação da OMS é muito mais plausível com a realidade. É uma lei que estava desatualizada para o atual momento que estamos vivendo – sustenta Sulzbach, ao ressaltar que o decreto de Leite "vem ao encontro da posição de Porto Alegre".
Caxias do Sul
De acordo com a prefeitura de Caxias do Sul, os trabalhadores da educação serão orientados a informar às crianças que o uso de máscara não será mais obrigatório, e sim recomendado.
Canoas
O prefeito de Canoas, Jairo Jorge, diz que é preciso ter cautela e que toda a flexibilização deve ser calcada em indicadores.
– Vamos avaliar as taxas de vacinação. No entanto, ao poucos precisamos voltar à normalidade. Temos que ter um cuidado especial com esse período pós-carnaval. No ano passado, foi o pior momento. Na minha opinião, qualquer flexibilização deve esperar os próximos 15 dias para acontecer – observa Jairo Jorge.
Segundo o prefeito, uma reunião na quarta-feira deverá definir como o município vai tratar esse tema.
– Se não tivermos uma ampliação dos casos, será possível avançar rapidamente na flexibilização – conclui.
Pelotas
A prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas, diz que ficou definido que haverá a obrigatoriedade do uso de máscara para crianças acima de três anos até o dia 18 de março.
– Depois disso, a tendência será seguir o protocolo estadual. Achamos prudente manter a exigência pelos possíveis efeitos do feriado de Carnaval – esclarece Paula.
Santa Maria
O prefeito de Santa Maria, Jorge Pozzobom, classificou como correta a decisão de Eduardo Leite.
– Abriu o ano letivo e fiquei pensando que nós vamos nos restaurantes e as pessoas estão sentadas comendo e bebendo sem máscara. Por que as crianças em sala de aula têm que usar máscara? Eu fazia essa reflexão antes mesmo do decreto do governador. Avançamos muito na vacinação, temos um grau de responsabilidade muito grande. Estamos no caminho certo. E vai chegar o dia em que vamos liberar para todos o uso de máscara - opina Pozzobom, ao dizer que vai se reunir com a Secrataria da Educação para que tudo seja devidamente esclarecido aos pais e alunos.
Gravataí
Em Gravataí, o prefeito Luiz Zaffalon disse que vai seguir o decreto estadual.
– É muita gente reclamando do uso de máscara, principalmente na Educação Infantil. Então, estávamos só aguardando essa decisão – relata o prefeito.
Representante dos municípios
O presidente da Federação das Associações dos Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) e prefeito de São Borja, Eduardo Bonotto, diz que a decisão de Eduardo Leite vem ao encontro do que pensam prefeitos e prefeitas.
–Que os alunos venham a ter condições melhores para estar dentro do ambiente escolar, sabendo que é um ambiente seguro, onde as condições de prevenção e de cuidados têm se demonstrado eficientes. A gente fica satisfeito neste momento. É importante focarmos na questão de recuperarmos essas dificuldades que a pandemia trouxe para as nossas crianças e jovens no vácuo educacional que ainda não conseguimos mensurar. Temos que buscar minimizar todas essas questões e trazer um viés de retomada – sustenta Bonotto.
Escolas privadas
O presidente do Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe-RS), Bruno Eizerik, explica que diante da recomendação, e não mais da obrigatoriedade, caberá a cada instituição de ensino decidir sobre o uso de máscara pelas crianças.
– Nós entendemos que o ideal é que frente à variante Ômicron as crianças continuassem usando máscara. Mas nós temos uma realidade que hoje somente nas escolas as crianças usam máscaras. Quando se vai em shoppings e restaurantes, as crianças não usam. Na praia, então, nem os adultos usam máscara – destaca Eizerik.
O dirigente alerta que os pais devem aguardar um comunicado da escola sobre o uso de máscaras
Alerta médico
O gerente de Risco do Hospital de Clínicas e epidemiologista Ricardo Kuchenbecker, em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, afirmou que não é o momento adequado para retirar a obrigatoriedade do uso de máscaras por crianças.
– É um pouco preocupante por causa da circulação da variante Ômicron, que determina um aumento de infecção em crianças nessa faixa etária. Cabe considerar que isso é novo para nós, porque desde o início da pandemia não tínhamos nas crianças e nos adolescentes este risco acrescido – pondera o médico.
Também em entrevista ao programa, a diretora do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), Cynthia Molina Bastos, disse que a decisão foi tomada também com base em posição da Organização Mundial da Saúde. Adianta, no entanto, que todos os protocolos adotados podem ser sempre reavaliados de acordo com o comportamento da pandemia.