Em meio à pandemia de coronavírus, a educação brasileira está sendo impactada pela suspensão das aulas presenciais e por todo o debate sobre o ensino a distância. No período, surgiram também discussões como a que envolveu a medida provisória (MP) que permitia ao ministro da Educação nomear livremente reitores durante a pandemia — que acabou derrubada pelo Congresso Nacional. É neste cenário que a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) está realizando eleições para a escolha do próximo reitor.
A campanha eleitoral começou na última terça-feira (23). Três chapas estão na disputa, que será realizada de forma online em 13 de julho. O prazo da campanha, em que também serão realizados debates, segue até 12 de julho, véspera da consulta à comunidade. Serão realizados pelo menos dois debates oficiais e formais, sendo convidadas todas as chapas inscritas.
As candidaturas são as seguintes:
Chapa 1 – “A UFRGS precisa votar, a UFRGS precisa mudar”
- Carlos André Bulhões Mendes (Instituto de Pesquisas Hidráulicas), reitor
- Patrícia Helena Lucas Pranke (Faculdade de Farmácia), vice-reitora
Chapa 2 – “Sempre-viva: Experiência e inovação”
- Rui Vicente Oppermann (Faculdade de Odontologia), reitor
- Jane Fraga Tutikian (Instituto de Letras), vice-reitora
Chapa 3 – “Comunidade em movimento”
- Karla Maria Müller (Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação), reitora
- Claudia Wasserman (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas), vice-reitora.
Para a chapa 1, que destaca a necessidade de que todos exerçam o direito ao voto nesta consulta — nas eleições de 2016, apenas 18,14% do total de pessoas aptas a votar participaram da consulta —, a UFRGS precisa de um novo rumo.
"Queremos uma gestão focada naquilo que realmente interessa: nas reais necessidades de todos os setores da nossa universidade, valorizando todos os campi e unidades acadêmicas. Uma gestão com menos partidarismo e mais modernidade, menos sectarismo e mais eficiência — destacam Carlos Bulhões, professor com grande parte de sua trajetória dedicada ao Instituto de Pesquisas Hidráulicas, e Patricia Pranke, professora da Faculdade de Farmácia e renomada pesquisadora da área de células-tronco.
Os candidatos, de oposição, ressaltam que "a gestão da UFRGS só vai melhorar se estivermos mais próximos", apontando que a universidade não é de um grupo, mas da sociedade.
Já a chapa de situação, a 2, formada pelos atuais reitor e vice-reitora, destaca algumas conquistas da UFRGS: liderança científica com seus estudantes e pesquisadores, posição entre as cinco maiores instituições geradoras de ciência no país, referência na pós-graduação e na extensão e, pelo oitavo ano consecutivo, escolhida a melhor universidade federal do Brasil em avaliação do Ministério da Educação (MEC).
"Diante da pandemia, defendendo a vida, a saúde e a segurança dessa mesma comunidade, a UFRGS assumiu importante papel. É chegado o momento de um olhar contemporâneo sobre a UFRGS, integrando-a aos novos tempos, tornando-a mais democrática na promoção da justiça social e do bem comum", apontam Rui Oppermann e Jane Tutikian, ressaltando a larga experiência de gestão da chapa.
Oppermann foi vice-reitor na gestão de Carlos Alexandre Netto, entre 2008 e 2016. Naquele mesmo ano, assumiu a reitoria ao lado de Jane.
A outra chapa de oposição é formada por duas mulheres: Karla Maria Muller, atual diretora da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico), e Claudia Wassermann, atual diretora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), ambas professoras titulares e pesquisadoras vinculadas a programas de pós-graduação, ligadas a ações de extensão universitária e gestoras com experiência na UFRGS. Para elas, é preciso recolocar a UFRGS como protagonista nacional e internacional em ciência, arte, cultura, política, inovação, inclusão e sustentabilidade.
"Defendemos um programa com princípios muito claros de democracia, transparência, autonomia e referenciamento social e com propostas concretas de políticas e ações para as principais questões que afetam a vida acadêmica e administrativa da UFRGS. Nossas propostas estão abertas à discussão e convidamos toda a comunidade a conhecer e colaborar com o programa", afirmam Karla e Claudia, informando que apresentam uma candidatura movida pela vontade de colocar sua experiência a serviço de um projeto de UFRGS autônoma, democrática, inclusiva e transparente.
Escolha pelo governo
Em junho, uma medida provisória assinada pelo presidente Jair Bolsonaro tentou determinar a escolha de reitores interinos pelo governo, em iniciativa compreendida por muitos educadores como uma tentativa de assumir controle ideológico e de gestão das universidades públicas brasileiras. O atual mandato termina em 28 de setembro.
O rito eleitoral da UFRGS passa pela consulta à comunidade acadêmica, composta por servidores, alunos e professores — estes últimos, com os votos de maior peso. Uma lei de 1996 institui que todos os órgãos colegiados e comissões sejam formados por 70% de docentes. Já a representação estudantil e de servidores e técnicos possui 15%, cada, das vagas nos conselhos e comissões da universidade.