Há um ano e quatro meses em busca de emprego e sem dinheiro nem para a passagem do ônibus, Geovani Corrêa Pacheco, 29 anos, que faz parte do grupo de 13,4 milhões de brasileiros desempregados, vai em busca de uma oportunidade apesar das dificuldades.
Morador do bairro Santa Rita, em Guaíba, ele saiu de casa à 0h desta quinta-feira (2) e pedalou por uma hora e meia até Porto Alegre, para chegar à agência do Sine localizada na esquina das avenidas Sepúlveda e Mauá, no Centro Histórico, com a esperança de, finalmente, conseguir uma oportunidade de trabalho. As portas do local abrem às 8h30min, mas a fila, à 1h, já começava a ser formada.
Enquanto a distância percorrida por Geovani — aproximadamente 26km — pode assustar quem não está habituado a pedalar, ele conta que andar de bicicleta já é um costume:
— Essa não foi a primeira vez em que eu pedalei de Guaíba até Porto Alegre. Isso aconteceu quando eu tinha 17 anos, fui para passear e peguei gosto — conta.
Agora, pai de dois filhos — Nicolas, cinco anos, e Murilo, quatro meses —, Geovani tem a bicicleta como principal meio de locomoção.
— Ando por tudo de bike. Hoje (quinta-feira), por exemplo, eu saí de casa e só parei quando cheguei no Sine — afirma Geovani, que levou consigo uma câmara e uma bomba de ar, caso precisasse consertar um pneu que furasse.
— Eu também costumo levar roupas para trocar, já que acabo ficando um pouco suado durante o percurso.
Além de Geovani, sua esposa, Tatiane Marques, 38 anos, também está desempregada — há cinco anos. Juntos, os dois enfrentam dificuldades para cuidar dos filhos.
— Precisamos comprar fralda para o pequeno e leite para os dois. Temos uma pessoa que nos ajuda, dando um rancho básico e outros alimentos quando pode. Geralmente, juntamos latinhas para conseguir nos manter no dia a dia. Mas, como o quilo rende só R$ 2,50, é bem difícil — comenta.
Geovani teve a carteira assinada pela primeira vez quando tinha 20 anos, mas desde muito antes já sabe o que é trabalhar. Com o pai, que já morreu, ele costumava fazer pequenos bicos como assistente de obras.
— Meu pai ganhava R$ 120 por semana e, quando tinha mais trabalho, me chamava para ir junto. Me dava R$ 5 ou R$ 10 pelo dia. Naquela época, isso era um bom dinheiro — relembra.
Ao longo dos anos, já trabalhou como vigilante, operador de betoneira, em supermercado e como auxiliar de mecânico, que, segundo ele, é sua verdadeira paixão.
— Tenho um tio que trabalha com isso, tem uma mecânica em Gravataí. Desde pequeno, vi ele fazendo isso, daí me apaixonei. Eu gostaria muito de fazer um curso nessa área, eu tenho uma paixão grande por mecânica, sempre gostei, mas, para isso, preciso de um emprego — comenta.
Já faz parte da rotina de Geovani sair em busca de emprego. Entrega currículos em Guaíba, vai a agências de emprego e pede indicações aos amigos, mas confessa que a situação está difícil. Ainda assim, ele segue em busca de uma oportunidade, seja de bicicleta ou não. A viagem realizada nesta quinta-feira não lhe rendeu bons frutos, não conseguiu nenhuma entrevista, mas revela que não pensa em desistir:
— Quando percebo que ninguém vai ligar, eu pego a minha bicicleta, uma bomba de ar e uma camiseta limpa e vou em busca novamente.