Ainda que a 6ª Vara da Justiça Federal de Porto Alegre tenha acolhido, na tarde desta sexta-feira (9), pedido da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) para a reintegração de posse da Reitoria, integrantes do movimento negro decidiram manter-se no prédio, ocupado desde a noite de quarta-feira (7). A ocupação começou depois de uma reunião realizada na tarde de quarta em que se mantiveram as divergências na forma como a instituição deve analisar tentativas de fraudes das cotas étnico-raciais.
Por volta das 16h, o juiz federal Bruno Risch de Oliveira acolheu pedido da universidade que exigia a saída dos ativistas do prédio no Campus Centro. O argumento é de que cerca de 400 servidores estão impedidos de trabalhar, o que prejudica as matrículas de recém-aprovados, além de colocar em risco o acervo de obras de arte do local.
A liminar deferida pela Justiça determinava a intimação dos militantes e concedia prazo de duas horas para a liberação do prédio. Caso não houvesse desocupação, o uso da força policial e militar estava autorizado.
Às 17h30min, o oficial de Justiça chegou à ocupação e notificou o movimento. O ambiente exalava ansiedade: os militantes se uniam e conclamavam a união dos presentes.
Uma negociação informal permitiu que a força policial não fosse usada para a retirada dos estudantes. Após pressão de integrantes dos movimentos negros e da vereadora Sofia Cavedon (PT), presente no local, o oficial de Justiça entrou em contato com a 6ª Vara para verificar se a força policial deveria obrigatoriamente ser usada após as duas horas.
Feito o contato, o oficial de Justiça anunciou que a intervenção policial apenas se daria caso a UFRGS a solicitasse judicialmente.
Com a garantia de que não haveria uso de força policial nesta sexta-feira, ativistas optaram por manter-se no edifício da Reitoria.
— É importante que a gente resista — diz Carla Souza, integrante do Coletivo Balanta, em discurso.
Convidado a entrar na ocupação, o oficial afirmou que o saguão do prédio está em boas condições e as obras de arte estão preservadas. Às 19h25min, cinco minutos antes de esgotado o prazo para a desocupação do prédio, integrantes da Reitoria, incluindo o pró-reitor de Graduação, Vladimir Nascimento, chegaram ao local. Informalmente, eles propuseram uma reunião para a manhã de segunda-feira (12), para nova tentativa de diálogo. Nascimento garantiu que, "de forma nenhuma", a Reitoria pretende ou pretendeu solicitar força policial.
— Estamos abertos. Será uma reunião para o diálogo. Aliás, sempre estivemos. Eu diria que avançamos em 90% dos pontos. Não vamos trancar por causa dos 10% — disse.
Carla, do Coletivo Balanta, confirmou que, formalizado o convite, os movimentos negros deverão estar presentes na reunião.
— Vamos apresentar nossa pauta. É para isso que estamos aqui na ocupação — salientou.