Quem tem o costume de utilizar o azeite de oliva no preparo dos pratos teve surpresas ao buscar pelo produto na prateleira do supermercado nos últimos meses. O item encerrou 2023 com alta de 37,1% nos preços — bem acima da inflação oficial, que foi de 4,62% no ano, segundo o IBGE. O que já era iguaria de poucos, pelo hábito, tornou-se quase artigo de luxo para quem já o consumia.
Embalagens que antes custavam cerca de R$ 30 agora são encontradas por R$ 50 nos mercados. Os motivos para a alta vieram de fora, mas podem acrescentar, em 2024, o impacto nacional.
A seca sobre os olivais da Espanha, maior produtora de azeite de oliva do mundo, reduziu a oferta do produto e fez os preços dispararem. A combinação de chuvas abaixo da normalidade e de ondas de calor na Europa reduziu a produção drasticamente, baixando os estoques mundiais do produto.
— Já vínhamos com problemas na Espanha e nos países mediterrâneos, que para fins de preços são determinantes. Mesmo os azeites mais baratos aumentaram em 50% ou mais. Agora, temos problemas na América do Sul como um todo, com quebras no Chile e no Peru, que são grandes produtores, mais que o Brasil — explica o coordenador da Câmara Setorial de Olivicultura da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) do governo do RS, Paulo Lipp.
No Brasil, a estimativa de danos nos pomares de oliveiras devido aos reflexos do El Niño pode entrar no preço da prateleira. A safra das azeitonas em 2024 tende a ter quebra no Rio Grande do Sul em relação ao ano passado, quando a colheita foi recorde. A redução levará a uma oferta menor.
O Estado é o maior produtor de azeitonas do país, respondendo por 80% da produção nacional de azeite de oliva. Na safra 2022/2023, a colheita resultou em 580 mil litros de azeite. A litragem recorde deve fazer a diferença na comercialização ao longo deste ano, diz Lipp:
— A safra de 2023 foi a maior que tivemos, então muitos produtores terão estoque para atender a demanda ainda em 2024, mesmo com a queda atual.
Apesar da produção local relevante, os rótulos europeus representam mais de 90% do consumo nacional. Mas cada vez há mais espaço para a produção brasileira, reconhecida pela qualidade de excelência dos azeites.
Oliva em alta, soja em queda
Enquanto o azeite de oliva experimenta altas históricas, o contrário acontece com o óleo de soja, amplamente utilizado na cozinha pelos brasileiros. O produto registrou queda de 28% nos preços em 2023, segundo o IBGE.
A redução, segundo o economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), é resultado da safra farta do grão no ano passado.