A inflação oficial do país, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), fechou 2023 em 4,62%, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com o resultado, o IPCA do ano passado ficou abaixo do teto de 4,75% da meta de inflação perseguida pelo Banco Central pela primeira vez após dois anos.
Em 2021 e 2022, o IPCA havia estourado o limite, com índices de 10,06% e 5,79%, respectivamente.
Os analistas do mercado aguardavam um resultado abaixo do que foi divulgado, de 4,5% em 12 meses. Ainda assim, o dado veio dentro do intervalo de tolerância da meta, fechando o ano em comportamento bem mais otimista do que as expectativas traçadas no início ano passado.
O resultado de 2023 foi influenciado principalmente pelo grupo Transportes (7,14%), que teve o maior impacto no acumulado do ano. Na sequência, vieram Saúde e cuidados pessoais (6,58%) e Habitação (5,06%). Alimentação e bebidas, grupo de maior influência no IPCA, subiu 1,03% no ano.
A inflação do país perdeu força ao longo do ano passado, influenciada, especialmente, pela pressão menor dos alimentos. Movimento que foi favorecido pela maior oferta de produtos e pela acomodação dos preços após reflexos da pandemia, conflitos mundiais e impactos do clima.
As carnes em geral, grande peso na mesa do brasileiro, caíram 9,37%. Já o óleo de soja caiu 28% no ano, como resposta da boa safra do grão no país, conforme sinaliza o economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
— A alimentação foi favorecida por questões de safra, que resultaram em quedas importantes, principalmente em alimentos da cesta básica, sobretudo das proteínas. Isso ajudou bastante a ter uma inflação mais controlada no ano passado — diz Braz.
No grupo Transportes, classe de despesa que mais pressionou o resultado da inflação no ano passado, gasolina, emplacamento e valorização dos automóveis foram os itens de destaque.
O economista do FGV Ibre lembra que impostos sobre combustíveis foram retomados, fazendo com que a gasolina tivesse aumento de 12% no acumulado de 12 messes. Além dela, o IPVA subiu 21% no país, seguindo a alta do preço dos automóveis, que inflacionaram 2,37% no ano.
Índice de dezembro
Na avaliação mensal, o IPCA de dezembro foi de 0,56%, ou 0,28 ponto percentual (p.p.) acima da taxa de novembro (0,28%).
O grupo Alimentação e Bebidas registrou alta de 1,11% em dezembro, após subir 0,63% em novembro. A alimentação no domicílio subiu 1,34%, influenciada pelas altas da batata-inglesa (19,09%), feijão-carioca (13,79%), arroz (5,81%) e frutas (3,37%). Já o leite longa vida recuou pelo sétimo mês consecutivo (-1,26%).
Preços acima em Porto Alegre
Na grande Porto Alegre, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou 2023 em 4,63%, próximo da inflação nacional, e acima da taxa no encerramento de 2022, quando a variação de preços acumulada foi de 3,61% naquele ano, segundo o IBGE.
Em dezembro, a inflação na Grande Porto Alegre foi de 0,43%, antes os 0,34% apurados no mês anterior.
Os destaques foram parecidos ao comportamento nacional. No ano, a inflação na Capital teve influência dos grupos Transportes (9,44%), Educação (8,91%), Saúde e cuidados pessoais (5,80%) e Habitação (5,11%). Somente Artigos de residência (-1,13%) e Alimentação e bebidas (-0,05%) encerraram o ano com variações negativas nos preços.
Projeções para 2024
Para 2024, a expectativa é de que a inflação volte a desacelerar e o IPCA encerre o ano em 3,9%. Tudo dependerá, segundo os analistas, dos impactos do El Niño sobre a safra agrícola.
A atuação do fenômeno climático, intensificada nos últimos meses do ano passado, trouxe chuva extrema para o sul do país e seca na Região Centro-Oeste. O quadro levou a reduções nas projeções oficiais da produção brasileira de grãos. Se confirmados os impactos, a tendência é de que os preços dos alimentos voltem a subir ao longo do ano, após trégua em 2023.
— Se a safra não for tão boa, os preços podem avançar em média 4,5% — estima Braz.
Como é definida a meta de inflação
A meta para a inflação é definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN);
Cabe ao Banco Central (BC) adotar as medidas necessárias para alcançá-la, como elevar a taxa básica de juros da economia (a Selic);
O índice de preços utilizado é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE);
Atualmente a meta se refere à inflação acumulada no ano. Por exemplo, a meta para 2023 é de uma inflação de 3,25%. No entanto, com a mudança para a meta contínua, a meta não ficará restrita ao ano-calendário.
No desenho atual do sistema, o CMN define em junho a meta para a inflação de três anos-calendário à frente. Por exemplo, em junho de 2018, o CMN definiu a meta para 2021. Esse horizonte mais longo reduz incertezas e melhora a capacidade de planejamento das famílias, empresas e governo.
Fonte: Banco Central