Cálculos atuais tentam considerar o impacto real da mudança climática e a adaptação a este novo cenário, que também tem custo. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, 66% dos municípios brasileiros não estão preparados para enfrentar as mudanças do clima. E terão de se adaptar.
Entre 2013 e 2022, segundo a pasta, 4 milhões de pessoas foram diretamente afetadas por eventos relacionados às mudanças climáticas, tanto por redução de chuvas no centro e no norte quanto por inundações no sul e no sudeste do país.
No Rio Grande do Sul, a preocupação ganha novos contornos depois das tragédias recentes. Foram três ciclones com efeitos devastadores e mortes em diversas regiões, somente este ano. A estratégia local de enfrentamento passa por um conjunto de ações. Lançado recentemente pelo governo do Estado, o programa ProClima 2050 prevê medidas de combate a desastres, entre elas a criação de um gabinete de crise climática permanente. Conforme o governador Eduardo Leite, as estratégias tratam de assumir compromissos públicos com a questão climática.
As medidas de governo, no entanto, têm efeito direto nas contas públicas. Países em desenvolvimento, em geral, não têm espaço fiscal previsto para socorros relacionados a eventos climáticos, o que impacta no endividamento público e acentua as desigualdades de adaptação.
— No Brasil, em particular, como se tem muitas áreas vulneráveis e incapacidade de financiamento, sobra muito para o Estado e isso ameaça inflação, orçamento público, porque é mais um ônus para o governo bancar. Por mais que se possa conseguir financiamento externo e apoio privado, há uma fatia do Estado que é inerente a ele e que gera custo fiscal — observa Sergio Margulis, doutor em economia ambiental associado à consultoria WayCarbon e que atuou como economista de meio ambiente do Banco Mundial por 22 anos.
Caminhos para agir
Segundo os pesquisadores, há duas frentes de ação colocadas à mesa: de mitigação e de adaptação. A primeira passa por atenuar o aquecimento global a partir da redução das emissões. A maioria das estratégias de mitigação estipula o ano de 2050 como horizonte para o atingimento das metas de descarbonização. Mas o prazo é questionado pela urgência que as medidas exigem.
Paralelamente, há investimentos necessários para que as cidades se adaptem ao novo contexto climático. A preparação passa por construir estruturas mais resistentes às intempéries, como pontes, estradas e elaboração de planos diretores para cidades constituídas em áreas de risco. O tema já vem sendo incluído no desenho de novos projetos ligados ao setor de transportes, por exemplo, prevendo contratação de seguros para obras e concessão de estradas e hidrovias.
E passa, também, por planejar a transição energética. O recrudescimento do clima tem efeito direto na disponibilidade dos recursos hídricos, afetando a geração de energia hidrelétrica. A utilização de fontes renováveis, solar ou eólica, se torna ainda mais necessária nos cenários de falta de água.
— Você pode gastar muito em prevenção agora, ou não fazer os investimentos e acontecer o que aconteceu com vocês (no Vale do Taquari), de ter que reconstruir cidades inteiras. Há décadas se sabe disso. O que vai ser até 2050? São ainda 30 anos de emissões — questiona Margulis.
Construções de futuro
As questões do clima também passaram a nortear a construção civil voltada à moradia. Edificações com elementos cada vez mais voltados à sustentabilidade são realidade nos prédios novos, ao menos em grandes centros urbanos. Em algumas cidades, o incentivo vem da própria administração pública.
Claudio Teitelbaum, presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil no Estado do Rio Grande do Sul (Sinduscon- RS), menciona o decreto de certificação sustentável regulamentado pela prefeitura de Porto Alegre como “verdadeiro incentivo” para que as construtoras lancem unidades de perfis voltados à redução dos impactos ambientais. Outras cidades do país já incorporaram o chamado IPTU Verde, que concede desconto no imposto para imóveis que adotam medidas sustentáveis. Em Porto Alegre, o abatimento deve ser realidade a partir de 2024.
A tendência aponta para um perfil de construções cada vez mais voltadas ao melhor consumo de energia, à projeção de fachadas que garantam conforto térmico das unidades, a estratégias de reuso da água coletada da chuva e até mesmo ao reaproveitamento dos materiais utilizados nas obras. São elementos que, no dia a dia, também retornam em menor valor condominial para os moradores.