Onde antes havia cursos d’água caudalosos, agora há bancos de areia, barcos encalhados e carcaças de animais. O mítico rio Negro acaba de atingir o nível mais baixo desde o início das medições, há 121 anos. Jamais, na história recente, tantos botos morreram de uma vez, em um mesmo período de seca. Nunca, até onde se tem notícia, o céu de Manaus ficou tão turvo pelas queimadas na mata.
A Amazônia - reguladora do clima na Terra - agoniza diante dos nossos olhos e nós seguimos anestesiados.
Enquanto a opinião pública se volta, com razão, para a escalada da violência no Oriente Médio, clamando por paz, a maior floresta tropical do planeta trava sua própria batalha. É a luta contra os efeitos catastróficos das mudanças climáticas.
Maior bioma brasileiro, berço da principal bacia hidrográfica do mundo, a Amazônia está colapsando. Algo que os cientistas vinham prevendo há anos e que parecia uma projeção distante e abstrata, começa a se materializar diante de nós. Hoje. Agora. Está acontecendo enquanto você lê estas linhas.
É a maior estiagem já registrada na região em décadas, com 95% dos municípios em situação de emergência. Há impactos ambientais incalculáveis, com efeitos colaterais globais. Isso sem falar das consequências socioeconômicas. A coisa é tão séria que já paralisou cerca de 30 empresas da Zona Franca, com férias coletivas para mais de 10 mil trabalhadores.
Não estamos dando a atenção que a situação merece. Assim como não devemos nos calar diante do terrorismo, não podemos mais nos omitir frente ao desastre em curso no nosso maior patrimônio verde. Isso também deve ser motivo de protesto.