Não são eventos pontuais nem pontos fora da curva e, definitivamente, não se trata de “coisa de ecochato”. Já são três semanas de ondas de calor intermitentes em diferentes cantos do mundo e, ao que tudo indica, julho será o mês mais quente já registrado no planeta - algo sem precedentes em milhares de anos.
Em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, o glaciologista Jefferson Cardia Simões, professor da UFRGS e autoridade na área, não estava brincando quando indicou, na manhã desta sexta-feira (28), que estamos chegando em um ponto sem volta. Estamos mesmo.
O clima anda de ponta-cabeça. Não é sem motivos que o secretário-geral da ONU, António Guterres, reforça o coro. Guterres tem dito que a era do aquecimento global está virando, mais rápido do que se imaginava, a era da ebulição do planeta. Estamos fervendo e parece que ainda não atentamos para o problema.
Nos últimos dias, testemunhamos temperaturas de 52,2ºC no noroeste da China e de 53,3°C na fronteira entre a Califórnia e Nevada, nos Estados Unidos, além de incêndios florestais no Canadá e na Europa e até o fechamento de monumentos históricos - como a Acrópole de Atenas - em razão do incômodo provocado pelo calorão.
Mesmo aqui, no hemisfério Sul, vivemos um inverno igualmente atípico. Os negacionistas do clima dizem que "sempre foi assim", que "sempre houve reviravoltas". O problema é que os eventos extremos estão se tornando cada vez mais frequentes e mais extremos. Não há normalidade nisso, e os cientistas estão aí para provar.
Mesmo entre leigos, basta olhar para o passado e lembrar da estação mais fria do ano em tempos pretéritos, quando éramos crianças. Há 20, 30, 40, 50 anos, era preciso usar blusões e casacos pesados nos meses de junho e julho. Hoje, temos semanas com temperatura batendo a casa dos 30ºC, como ocorreu há alguns dias, e os invernos já não são os mesmos. Se isso é "normal", então estamos mesmo lascados.
Quando vi a capa da revista New Yorker da semana (ao lado), decidi trazê-la para a coluna e dividi-la com você.
A arte, concebida pelo artista Christoph Niemann, foi chamada de “receita para o desastre”. Niemann desenhou o planeta dentro de quatro aparelhos de microondas, onde é possível ver o globo terrestre cada vez mais quente, como se estivesse literalmente cozinhando.
Triste realidade. É hora de acordar.