Há quatro anos, realizei um antigo sonho. Comprei, com a família, um sítio no interior do Rio Grande do Sul, no alto de uma escarpa, em uma área antes usada para plantar tabaco e extrair pedra grês. Foi a melhor decisão que tomei, em especial, pelo que viria depois.
Os vizinhos ficaram surpresos quando souberam que, ao contrário do costume local, não pretendíamos erguer uma casa à beira da estrada nem botar o mato abaixo. Optamos por construir um quiosque ao pé do morro, o mais longe possível da civilização, em meio às árvores. Exceto por um trecho destinado a uma pequena plantação, deixamos a natureza agir e fazer o seu trabalho. Foi a segunda melhor decisão, em especial, você já sabe, pelo que viria depois.
Costumo dizer, olhando para trás, que a floresta regenerada (na foto que ilustra esta página) me salvou da pandemia. Nos momentos mais difíceis, sempre que possível, foi lá que me refugiei. O ar puro, as plantas ocupando espaços e retomando seu curso natural e o som dos bichos - pássaros e macacos - funcionaram como ansiolíticos. É assim até hoje. Exagero?
Pode até ser, mas, no Japão, esse papo é coisa séria. Do outro lado do planeta, a contemplação do verde é uma terapia introduzida no sistema de saúde desde a década de 1980 e tem até nome: “shinrin-yoku”, traduzido como “banho de floresta”. Fiquei sabendo disso ao ler uma entrevista na Folha de S.Paulo, com o psicólogo Marco Aurélio Carvalho, diretor do Instituto Brasileiro de Ecopsicologia.
O “banho” nada mais é do que caminhar em meio à natureza e contemplá-la. De preferência, longe do telefone celular.
Descobri que, em 2018, o New York Times, um dos mais respeitados jornais do mundo, já havia tratado do tema, com um título bem sugestivo: “Take a Walk in the Woods. Doctor’s Orders”. Isso mesmo: ouça o médico e dê uma voltinha na floresta. Não precisa ser a amazônica, que fique claro.
Tudo isso, desconfio, nossos antepassados já sabiam, e não é necessário voltar muito no tempo para tirar a prova. Lembro de uma madrinha que abraçava a árvore na frente da casa dela. A gente achava graça, mas, no fim das contas, ela é que estava certa. Se é para a gente ser taxado de maluco, que seja assim, abraçando plantas no quintal.
No fundo, isso deveria servir para darmos mais atenção às áreas verdes, inclusive nas nossas metrópoles. É por isso que a recente discussão envolvendo o corte de árvores no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, o Parque Harmonia, erguido sobre um aterro, em Porto Alegre, é boa para a cidade.
Fora os excessos e a contaminação política (a eleição municipal vem aí), o assunto está pautando entrevistas, reportagens, podcasts e, no mínimo, fazendo com que as pessoas ao menos pensem sobre o tema, quase sempre secundário no cotidiano da urbe - em geral, estamos mais preocupados com buracos nas ruas e semáforos que não funcionam do que com o meio ambiente, o que é uma lástima.
Nunca é demais lembrar: nem todo mundo tem a sorte de poder “fugir” para o sítio.