Enquanto para os agricultores o impacto das mudanças climáticas é na produção, para o consumidor os reflexos vão do preço dos alimentos à oferta e à qualidade deles nas gôndolas.
Na Centrais de Abastecimento do Rio Grande do Sul (Ceasa), por onde passa 50% da produção hortigranjeira consumida no Estado, os relatos de dificuldades pelo clima se avolumam. Muitos produtores têm reduzido o número de idas à central por falta do que vender, e o espaço chega a ter módulos vazios em alguns dias da semana. As intempéries cada vez mais frequentes trazem insegurança e um efeito econômico enorme, diz o gerente técnico da Ceasa, Claiton Colvelo.
Produtor de hortaliças na região de Maquiné, uma das mais atingidas pelos ciclones, Mauro Dalpiaz, 61 anos, diminuiu de três para duas vezes na semana as idas à Ceasa, por causa da menor produção. O produtor diz que a retomada tem sido aos poucos, desde que perdeu toda a plantação de repolho, couve-flor e brócolis no primeiro evento climático de junho.
Dalpiaz tem alterado a produção conforme as condições de clima e de terra durante as estações do ano. Depois da enchente, passou a plantar em áreas mais elevadas do terreno em Maquiné, para tentar fugir de novos avanços da água. No verão, migra o plantio para terras arrendadas em São Francisco de Paula, na Serra, onde o clima é mais fresco para as folhosas.
Também há efeito sobre a qualidade dos produtos colhidos. Augusto Welter, 38 anos, relata que a combinação de chuvaradas e altas temperaturas apodrecem boa parte da colheita. O produtor cultiva aipim, moranga cabotiá e repolho na região de São José do Hortêncio e Linha Nova.
Para não perder a temporada, uma das alternativas é a mudança de cultivos. A áreas que não puderam ser aradas pela má condição do tempo deverão ser aproveitadas com outras culturas para que a terra seja reaproveitada. Na propriedade de Welter, o pedaço que seria dedicado ao aipim dará espaço para o milho verde, se o clima permitir.
Desafios comerciais
Outros impactos de ordem econômica relacionados ao clima estão previstos para entrar na conta dos países que não se adequarem aos novos tempos. São os custos decorrentes de possíveis sanções comerciais a locais que desmatam ou não produzem de acordo com padrões de sustentabilidade.
O tema voltou com mais força ao debate após a União Europeia estipular o prazo até 2025 para que os países exportadores se adequem às certificações exigidas pelo velho continente. No caso brasileiro, o desacordo com elas pode ter impacto financeiro extraordinários nas cadeias de produção agrícola que exportam, responsáveis por movimentar uma fatia importante do PIB do país.
As exigências do chamado Green Deal, ou Pacto Verde, em parte criticado por apenas criar barreiras comerciais, vai exigir reforço de algumas práticas. Os produtos poderão ter um custo adicional de mercado para manter a competitividade, alerta Gustavo Luedemann, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e coordenador de estudos em sustentabilidade ambiental do órgão.
Além disso, há a demanda do próprio consumo. Os clientes estão cada vez mais exigentes quanto à procedência dos produtos que consomem, o que também altera o mercado.
— Investir em tecnologias de produção menos emissoras é a única forma de nos mantermos competitivos neste mercado — diz Luedemann.