A busca por amparo após demissão voltou a aumentar no Rio Grande do Sul. O total de pedidos de seguro-desemprego aumentou 5,5% no primeiro quadrimestre deste ano ante o mesmo período de 2022 no Estado. Além da escalada anual, o volume de pedidos atingiu o maior patamar nos últimos três anos ao alcançar a maior marca desde 2020. Os dados são do painel de Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que divulga os balanços desse indicador mês a mês. Acomodação do mercado de trabalho após salto na criação de vagas com carteira assinada em um passado recente e economia a passos lentos ajudam a compor esse ambiente, segundo especialistas.
De janeiro a abril, o Estado anotou 130.197 requerimentos – 6.801 a mais do que no mesmo período do ano passado. Voltado a trabalhadores formais demitidos sem justa causa, o seguro-desemprego é um benefício que busca garantir uma seguridade até a recolocação no mercado. Quem se encaixa nos pré-requisitos do programa tem direito a uma assistência financeira temporária, calculada e com tempo de duração de acordo com os últimos vencimentos e tempo de atuação.
O economista e professor da Universidade Feevale José Antônio Ribeiro de Moura afirma que o aumento nos pedidos de seguro-desemprego responde aos movimentos observados no mercado de trabalho recentemente, como o aumento sazonal nos desligamentos nos primeiros meses do ano. Moura também lembra que, após aumento nas contratações, principalmente em 2021 e 2022, a geração de emprego apresenta desaceleração diante de ambiente econômico andando de lado:
— Tem a questão da própria economia que não caminhou, que segue desacelerando. Ao meu ver, os empresários ainda estão aguardando as decisões mais importantes que serão tomadas no Congresso Nacional para ter uma visão mais clara do cenário econômico e voltar a investir.
A coordenadora do Observatório do Trabalho da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Lodonha Maria Portela Coimbra Soares, afirma que, além da acomodação da geração de emprego formal e da economia fraca, o juro em patamar elevado também tem peso dentro desse processo:
— Essa política monetária de aumento da taxa de juro também pode ter arrefecido, reduzido o mercado de trabalho formal, aumentando as solicitações de seguro-desemprego.
A economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e especialista em mercado de trabalho Lúcia Garcia também cita o peso da contenção da economia. Lúcia afirma que os trabalhadores usam o benefício em um ambiente de incerteza em relação ao mercado nos próximos meses:
— A busca do seguro-desemprego pelos trabalhadores neste momento não é só sobrevivência, mas também um passo de transição para o futuro. E está muito difícil para o trabalhador enxergar uma possibilidade límpida de horizonte, de futuro. Ele está apostando no agora.
O novo aumento nos requerimentos de seguro-desemprego ocorre em paralelo a soluços na geração de emprego no país. Enquanto a criação de postos com carteira assinada apresenta desaceleração, o mercado geral, levando em conta os informais, apresenta o que parece ser o início de um período de retração. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgados na semana passada, mostram que o Rio Grande do Sul apresentou aumento do desemprego no primeiro trimestre. A taxa de desocupação subiu de 4,6%, no quarto trimestre de 2022, para 5,4% no acumulado dos três primeiros meses deste ano. Nesse período, o contingente de pessoas desempregadas saltou para 337 mil.
A reportagem tentou obter dados dos pedidos de seguro-desemprego separados por camadas, como setores, idade, faixa etária e grau de instrução no primeiro quadrimestre, mas o painel do governo mostrava esses recortes apenas até janeiro de 2023.
Futuro
O professor José Antônio Ribeiro afirma que o comportamento dos pedidos de seguro-desemprego no segundo semestre depende do rumo que a economia vai tomar nos próximos meses. Aprovação de pautas do governo no Congresso, como a nova regra fiscal, podem reativar a economia, incentivando a geração de emprego. Isso ocorre porque os empresários conseguem tomar decisões em um ambiente com menos incerteza, segundo o especialista:
— Acredito que os indicadores vão melhorar assim que for votado o arcabouço ou pelo menos dar uma direção de que as coisas vão andar efetivamente, que uma desvalorização cambial pode vir mais leve. Isso pode animar os investidores.
Ribeiro explica que as decisões sobre contratações costumam ocorrer com certo atraso em relação aos movimentos econômicos, mas apontam para o mesmo lado.
Já a economista Lúcia Garcia afirma que fatores ligados à dinâmica da renda no país, como reajuste do salário mínimo e repasses via programas sociais são importantes para projetar um cenário mais positivo para o mercado de trabalho, que impacta os pedidos de seguro-desemprego. Nesse balaio, também entra um alívio na curva de alta da taxa de juro básico. Por outro lado, a cena internacional, instabilidades no âmbito da desoneração da folha de pagamentos, endividamento das famílias e a situação tributária ainda mantêm ambiente de incerteza no futuro próximo, segundo a especialista
— As iniciativas do governo vão ser muito importantes para o segundo semestre. Acho que antes da primeira metade do ano, a gente não enxerga uma melhora. (...) No segundo semestre, a gente espera colher o que está sendo plantado agora.