O primeiro trimestre do ano se encerrou com aumento do desemprego no Rio Grande do Sul. A taxa de desocupação passou de 4,6% para 5,4% do quarto trimestre de 2022 para o primeiro trimestre de 2023, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) que foram divulgados nesta quinta-feira (18) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com isso, o total de pessoas desocupadas no Estado subiu para 337 mil.
O contingente cresceu em relação ao encerramento do ano passado, mas é menor em comparação ao primeiro trimestre de 2022, quando se considerava a saída da pandemia e os desocupados somavam 463 mil pessoas no Rio Grande do Sul.
Apesar do aumento percentual, a taxa de desemprego para o período é a segunda menor da série histórica, que se iniciou em 2012, e quando o desemprego foi de 5,3% no primeiro trimestre daquele ano. O atual percentual de 5,4% empata com os dados dos trimestres de 2013 e de 2014.
Na média nacional, a taxa de desemprego subiu de 7,9% para 8,8% na passagem dos trimestres. Além do Rio Grande do Sul, outros 14 Estados, mais o Distrito Federal, tiveram elevação nos níveis de desocupação.
Historicamente, o início do ano costuma apresentar alta nas taxas de desemprego, passados os meses mais aquecidos de contratações temporárias. Mas além do fator sazonal, há o efeito da atividade econômica que reflete sobre os resultados, explica o coordenador da Pnad Contínua no Estado, Walter Rodrigues.
— Normalmente, o primeiro trimestre tem uma taxa maior que os outros trimestres. Por outro lado, no ano passado tivemos um crescimento da atividade econômica que foi desacelerando ao longo do ano. Ou seja, além da questão sazonal, há a questão de o mercado de trabalho ser uma consequência e o resultado aparecer agora — diz Rodrigues.
O desemprego no Rio Grande do Sul apresentou uma das menores taxas na comparação com os demais Estados brasileiros. Os maiores resultados foram registrados na Bahia (14,4%), em Pernambuco (14,1%) e no Amapá (12,2%). Na outra ponta, Rondônia (3,2%), Santa Catarina (3,8%) e Mato Grosso (4,5%) tiveram os menores índices.
Em outro recorte da pesquisa, o Rio Grande do Sul está entre os locais com os maiores percentuais de empregados com carteira assinada no setor privado. O Estado é o segundo com a maior taxa (82,2%), atrás de Santa Catarina (88,2%) e à frente de São Paulo (81,1%).
Já em relação às pessoas que trabalham por conta própria, a parcela no Rio Grande do Sul é de 24,8%, pouco abaixo da média nacional, de 25,8% de ocupados nesta condição.
Em relação às posições de trabalho, o grupo que teve a maior queda, de 9,2%, foi o de trabalhadores por conta própria com CNPJ, com menos 56 mil postos de trabalho na comparação entre os trimestres. Depois, vêm o grupo de trabalhadores do setor privado sem carteira assinada (menos 31 mil postos) e militares e funcionários públicos estatutários (queda de 28 mil postos).
O rendimento médio real dos trabalhadores (R$ 3.167) também teve queda de R$ 90 na comparação trimestral, de 2,8%. Já na comparação anual, houve alta de 6%, ou diferença de R$ 178. Um dos motivos para as oscilações consideradas significativas vem da informalidade, segundo Rodrigues.
Os informais representam quase um terço da população que trabalha no Rio Grande do Sul. O total de trabalhadores informais no Estado passou de 1,889 milhão para 1,895 milhão de pessoas entre o quarto trimestre de 2022 e o primeiro trimestre de 2022. A taxa é de 32%.
Projeções
Do mesmo modo que os dados atuais de emprego são reflexo de desaquecimento a partir do final do ano, a expectativa é de que os desempenhos positivos do comércio e dos serviços na largada de 2023 no Estado voltem a girar o mercado de trabalho nos próximos meses.
— Os setores que mais empregam na economia gaúcha tiveram dados de alta no primeiro trimestre, o que pode levar a uma melhora do mercado de trabalhos nos próximos trimestres — diz Walter Rodrigues.
Na avaliação do economista-chefe da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL Porto Alegre), Oscar Frank, há uma dificuldade conjuntural para gerar crescimento mais robusto. Entre os vetores, estão fatores como juros altos e inflação, o que deve seguir impactando no crescimento do mercado de trabalho.
Frank cita que as projeções apontam para crescimento econômico à metade do que foi verificado em 2022, mesmo com revisões para cima. Segundo o economista, esse desaquecimento já se reflete em perda de ímpeto de maneira geral, muito embora o mercado de trabalho se mostre bastante resiliente.
— Quando analisamos todos os vetores, temos uma série de dificuldade como juros elevados. Mesmo reduzindo no curto prazo, até que a Selic caia, leva um tempo para se materializar na economia e gerar efeito benigno nos outros setores. O segundo ponto é a inflação, que embora os preços estejam subindo de maneira mais lenta, ainda estão em alta. O mercado de trabalho deve ter algum reflexo negativo por conta dessas dificuldades — diz o economista.