O fim da previsibilidade na política de preços da Petrobras pode aumentar o risco de ingerência política nas tarifas de combustíveis, alertam especialistas. A estatal anunciou, na terça-feira, o fim da paridade internacional para precificação dos combustíveis no Brasil — estratégia que atrela os preços da gasolina no país aos custos de importação, adotada quando o presidente era Michel Temer.
— O Brasil é um país que não tem um passado muito bom quando se fala em menos transparência de preços — diz o sócio-diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), Pedro Rodrigues. — Será que a Petrobras vai deixar dinheiro na mesa? Se eu estou com dificuldade de entender essa conta, imagina o acionista da Petrobras — questiona Rodrigues, avaliando que provavelmente o papel da empresa vai sentir o impacto da notícia nos próximos dias.
O economista e CFO da Somus Capital, Luciano Feres, não vê impacto para o consumidor final nos postos de abastecimento, mas prevê maior influência política na empresa e queda no lucro.
— Uma política que não segue a paridade não tem como ser positiva — diz.
O presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo, afirma que a nova estratégia de preços da Petrobras ainda não está clara, à exceção do fato de que a "transparência acabou".
— Eu li até duas vezes o fato relevante e, para mim, não está muito claro não, tem coisas muito subjetivas: como vai ponderar a melhor alternativa do cliente na formação de preço, a margem por refinaria, o preço do produto alternativo. Na minha visão, o que tem de concreto é que a transparência acabou — afirma.
Perda de referência
Para Rodrigues, o impacto da mudança na política de preços da Petrobras será sentido principalmente pelos importadores, que antes conseguiam enxergar com antecedência possíveis reajustes baseados no comportamento do petróleo no mercado internacional. A nova estratégia acaba com a previsibilidade dos reajustes de preços, e ainda fica a dúvida de como a estatal vai operacionalizar as mudanças.
— Com o PPI (Preço de Paridade de Importação), havia previsibilidade sobre a tendência do que acontecia — diz Rodrigues. — Essa previsibilidade acabou.
A perda de referência pelos importadores também é destacada por Araújo, que disse aguardar mais detalhes sobre a nova estratégia da estatal.
— Até agora o que entendi é que o agente dominante (Petrobras), que ainda tem uma parcela muito grande do mercado, está declarando que não tem mais transparência — destacou Araújo, acrescentando que a Abicom vai continuar publicando a defasagem dos preços internos em relação ao mercado internacional.
O que diz a estatal
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou que não há nenhum tipo de intervenção do governo na estatal:
— Nós (Petrobras) somos parte do governo brasileiro. Não há intervenção nesse sentido de dizer assim "bote o preço assim". Os instrumentos da Petrobras competitivos, de rentabilidade, de garantia da financiabilidade da companhia estão integralmente garantidos.