Ainda no embalo da transformação tecnológica impulsionada pela pandemia, o setor de tecnologia da informação (TI) segue aquecido e demandando mão de obra qualificada no Rio Grande do Sul. Estimativa da regional gaúcha da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Assespro-RS) aponta que existem cerca de 5 mil vagas de emprego em aberto nessa área no Estado.
Dificuldade em encontrar profissionais experientes e concorrência com outros países no âmbito do capital humano estão entre fatores que ajudam a explicar esse déficit, segundo integrantes do setor. O gargalo no campo do emprego acaba tirando um pouco de ritmo do potencial de expansão do mercado e força empresas a buscarem soluções.
O presidente da Assespro-RS, Julio Ferst, afirma que o ramo de TI no Estado segue em expansão e, consequentemente, isso reflete na aceleração na procura por profissionais. Essas vagas disponíveis estão espalhadas em diversos níveis, mas a demanda é maior por trabalhadores com maior experiência, segundo o dirigente:
— O nosso problema de capital humano reside na categoria onde precisa de currículos, de pessoas com experiência. Isso é importante frisar.
Nesse sentido, o executivo afirma que as vagas sênior, para trabalhadores mais qualificados e voltados para áreas estratégicas, e que são mais difíceis de preencher podem contar com salários na casa dos R$ 15 mil.
Ferst explica que o setor passou por uma explosão de crescimento em 2021 em meio à aceleração da transformação digital, principalmente em segmentos como saúde e educação. Agora, o setor segue em alta, mas a falta de talentos acaba freando o potencial de crescimento da área, de acordo com Ferst.
O presidente da Assespro-RS salienta que essa disputa por capital humano ultrapassa fronteiras. Como o trabalho remoto ganhou força durante a crise sanitária, empresas de outros Estados e de fora do país têm mais facilidade na busca por talentos, explica o presidente da Assespro-RS:
— O mundo inteiro compete pelos nossos profissionais e oferece vagas. Com a alta possibilidade de fazer home office, hoje, profissionais bem qualificados podem trabalhar aqui do Brasil para qualquer parte do mundo. É só ter uma boa internet, que não é mais um problema.
No ano passado, o total de vagas em aberto em TI no Estado estava em cerca de 6 mil. Ferst afirma que a queda neste ano ocorre diante de flutuações entre os dois períodos, de acordo com informações colhidas com empresas.
Diante dessa dificuldade na busca por profissionais, empresas do setor fundaram em 2020 o +praTI. A iniciativa conta com diversas trilhas de conhecimento para estimular a formação de trabalhadores na área, suprir parte do déficit de mão de obra e fomentar a economia digital no Estado. Um dos mantenedores do +praTI, o empresário Renato Turk afirma que a ação é voltada para pessoas interessadas em entrar na área:
— A +praTI se aplica bem para aquelas pessoas que querem entender e ingressar nesse mercado. Então, nós temos hoje quatro trilhas de conhecimento, em torno de 10 mil pessoas cadastradas e, neste momento, mais de 5 mil pessoas em alguma dessas trilhas.
Turk afirma que um dos diferenciais da iniciativa é criar ambiente para o desenvolvimento dos talentos, além de contar com diversas ofertas de emprego para os profissionais formados.
No âmbito de profissionais com maior especialização, a professora dos cursos de TI da Unisinos e coordenadora da graduação em Ciência da Computação da universidade, Rosemary Francisco, afirma que é importante estimular a formação. Isso pode ocorrer por parte dos trabalhadores na busca por cursos e em incentivos por parte das empresas, segundo a especialista:
— Tem muitas empresas criando seus próprios programas de capacitação fora da empresa. Com esses programas, eles podem desenvolver habilidades específicas para essas áreas mais demandadas.
Mais espaço para crescer
Dados da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) mostram que o setor criou 5 mil postos de emprego no Rio Grande do Sul no primeiro semestre do ano passado. Em 2020, o segmento havia fechado 5,3 mil no mesmo período, durante os primeiros meses de pandemia. Neste ano, o Estado abriu 3,5 mil postos no primeiro semestre (veja mais abaixo), o que mostra certa desaceleração. A entidade também informa que o Estado concentra 6,5% dos empregos na área no país e tem média de salários de R$ 3.051.
O presidente da Assespro-RS afirma que essa perda de ritmo no RS ocorre diante de uma acomodação após pico de crescimento e da falta de trabalhadores. No entanto, Ferst afirma que o Estado pode fechar o ano com abertura de postos em nível igual ou superior ao registrado em 2021 (8,9 mil). Isso ocorre diante de características sazonais do mercado de trabalho no segundo semestre, segundo o dirigente:
— Normalmente, no final do ano, acelera um pouco mais o processo de contratações. Isso não deve nos dar uma diferença muito grande em relação a 2021.
O CEO e fundador da Processor, Cesar Leite, afirma que o grupo passa por esse momento de expansão e busca por mão de obra. Ele destaca que isso ocorre porque a maior parte do insumo empresas que atuam na área está na capacidade intelectual dos profissionais. O empresário projeta terminar o ano com incremento de 40% no quadro de colaboradores das empresas.
— Éramos mais de 200 colaboradores no início do ano. Hoje, somos 300 levando em conta as empresas principais e devemos fechar o ano na casa de 340, 350 pessoas — estima o empresário.
Uma visão do setor no RS
- Primeiro semestre de 2020 - 5.300 postos fechados
- Primeiro semestre de 2021 - 5.029 postos criados
- Primeiro semestre de 2022 - 3.486 postos criados
- Estoque atual: 77.719 empregos
- O RS concentra 6,5% dos empregos do setor TIC
- A média de salários no Estado é de R$ 3.051
- O RS é o 6° melhor remunerador no segmento no país
Fonte: Brasscom com base em dados da RAIS e do Caged