A homologação da ampliação do calado do porto de Rio Grande deverá intensificar o fluxo de cargas e servirá como chamariz para novos investimentos privados ao Estado. No momento, aportes feitos no município por empresas nas áreas de fertilizantes e grãos já somam cerca de R$ 3,7 bilhões, segundo a superintendência do terminal. Especialistas em logística e infraestrutura avaliam que a cifra pode seguir crescendo, com a possibilidade de o terminal receber embarcações maiores e ganhar competitividade em relação a outras estruturas portuárias.
Após dois anos de obras de dragagem e investimento federal de aproximadamente R$ 500 milhões, que culminaram na remoção de 16 milhões de metros cúbicos de sedimentos, o calado operacional no chamado canal interno de Rio Grande passou de 12,8 metros para 15 metros. Esse nível é garantido na área onde há o maior fluxo de cargas, que inclui o Terminal de Contêineres (Tecon).
Na prática, o porto poderá receber embarcações com até 366 metros de comprimento. Até então, o limite era de 337 metros. Isso significa que um navio com soja, por exemplo, poderá ganhar até 8 mil toneladas extras cada vez que for carregado em Rio Grande, compara o diretor-presidente do Tecon, Paulo Bertinetti. O dirigente enfatiza que, com o novo calado, o Estado se candidata a hub do Conesul. Neste sentido, será possível receber cargas de Argentina, Uruguai e Paraguai que hoje sequer passam pelo Rio Grande do Sul.
— Rio Grande entra no cenário internacional de porto profundo. Não só os grandes navios podem entrar, como também podem transportar mais cargas. A grande oportunidade que temos é a condição de concentramos a carga do Conesul —avalia Bertinetti.
Movimentação de cargas
Superintendente de Portos do Rio Grande do Sul, Fernando Estima calcula que o movimento de cargas poderá crescer entre 5% e 10% com a nova estrutura, se aproximando da marca de 50 milhões de toneladas ao ano. Em 2019, o terminal teve fluxo de 44 milhões de toneladas. Neste ano, até setembro, o movimento chegou a 30,7 milhões de toneladas, leve incremento de 0,47% frente ao mesmo período do ano passado.
— O calado aumenta a segurança para a navegação e reduz os fretes internacionais, o que influencia no custo da logística — constata.
O superintendente considera que o próximo passo para potencializar o terminal está na atração de investimentos para os distritos industriais do Estado. Ele lembra ainda que, dos R$ 3,7 bilhões em investimentos já projetados no município, R$ 2,5 bilhões são na área de fertilizantes e R$ 1,2 bilhão no segmento de grãos. Yara, CCGL, Unifértil, Josapar e Timac Agro são algumas das companhias que devem concluir seus planos de expansão nos próximos dois anos, segundo o superintendente.
O presidente da Câmara Brasileira de Logística e Infraestrutura (Câmara Log), Paulo Menzel, enfatiza que a obra é importante para a infraestrutura do Rio Grande do Sul. No entanto, ressalta que, após a homologação da dragagem, o desafio está em manter as condições de navegação.
— Esse calado precisa estar continuadamente com os 15 metros, será preciso fazer a manutenção constante disso. Senão, não vamos atrair investidores ou cargas novas, se não conseguirmos manter o calado — alerta.
Menzel destaca que o custo logístico atinge 21,03% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado. Para baixar esse patamar, além da recente melhoria no porto, também são necessários investimentos em ferrovias, rodovias e infraestrutura de armazenagem, na avaliação do especialista.