O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, afirmou que a retomada do investimento público é temporária e representa apenas um "recuo" na política econômica do ministro da Economia, Paulo Guedes.
— Nesse momento de pandemia, a intervenção estatal foi mais do que necessária, e vimos isso acontecer em todos os países do mundo, independentemente da orientação ideológica de cada governo. Em um momento em que a própria pessoa física passa a não ter condição de gerar renda, e a empresa, de gerar emprego, compete ao Estado colocar recursos na economia — afirmou o vice-presidente nesta quarta-feira (29).
Segundo Mourão, mesmo que o desequilíbrio fiscal — intensificado pelo atual momento de crise do coronavírus — ainda seja um problema a ser enfrentado, o governo mantém como norte a implementação das reformas estruturais.
— Esse norte não está perdido. A intervenção do Estado é uma questão temporária e é apenas um recuo (na política econômica). É óbvio que esse recuo em 2020 fará com que a gente só atinja o equilíbrio (fiscal) em 2023 ou 2024, mas nosso norte é um só: vamos continuar em busca da redução do déficit fiscal — disse.
O vice-presidente também disse que as reformas tributárias e administrativas são essenciais para a retomada do crescimento. Ele destacou que a PEC Emergencial de Paulo Guedes — pacote de ajustes fiscais apresentado pelo ministro em novembro de 2019 e que tem como objetivo limitar o uso do dinheiro público — até pode ser derrubada ante o atual cenário, mas que, ainda assim, o governo precisará encontrar outras formas de apresentar as medidas apresentadas na proposta.
— A nossa grande âncora fiscal, que é o teto de gastos, está seriamente ameaçada pelo avanço contínuo e inexorável dos gastos obrigatórios. E como diz o ministro Paulo Guedes, nós não podemos furar o teto, temos que quebrar o piso para não deixar esse elevador subir mais — disse.
Segundo Mourão, o assunto deve voltar a ser discutido no Congresso após as eleições municipais.
— Sabemos que não é simples de conseguir passar determinadas reformas, que são extremamente abrangentes, no Congresso. Mas temos que fazer todo o esforço possível para que elas avancem. Depois das eleições municipais, teremos condições de colocar esse tema de volta para conseguirmos aprová-los em 2021 — disse.
Sobre setores específicos da economia, o vice-presidente afirmou que é preciso mudar a forma de encarar o sistema produtivo no Brasil e disse que a expectativa é de uma recuperação não-linear.
— Temos alguns setores que já estão preparados e que vão avançar de forma muito mais rápida. O agronegócio, por exemplo, está avançando normalmente, seus gargalos estão no setor de infraestrutura. Poderá ser necessário um pequeno empurrão do governo, dentro das nossas capacidades, para que a gente gere uma atividade maior. É um setor emprega mais, e as pessoas que trabalharem nesse setor terão sua renda — disse.
Ainda segundo Mourão, a infraestrutura é o "calcanhar de Aquiles" do país e que, com os investimentos públicos exauridos, cabe ao setor privado fazer os investimentos necessários para o avanço do segmento.
— O papel do setor público agora é o de ter os melhores projetos na prateleira e o de dar estabilidade e segurança jurídica para o parceiro privado investir no país, de modo que a gente consiga atingir nossos objetivos — afirmou Mourão.