Analistas do mercado financeiro rebatem a afirmação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o real e o peso argentino. Nesta segunda-feira (2), em mensagem publicada no Twitter, o americano acusou o Brasil e a Argentina de desvalorizarem "fortemente" suas moedas.
Na visão de Trump, essa suposta ação estaria prejudicando agricultores dos Estados Unidos. Com o dólar mais alto, exportações americanas ficariam mais caras para seus parceiros comerciais.
Segundo analistas, o dólar vem ganhando força na comparação com o real e o peso, mas não por vontade própria dos governos do Brasil e da Argentina, como sinalizou Trump. A alta da moeda americana reflete conjunto de fatores interligado a cada país, frisam os especialistas.
No Brasil, o dólar bateu recordes nominais e rompeu a marca de R$ 4,20. Em 2019, a alta acumulada foi de 9,4% até novembro.
Sócio-fundador da Fundamenta Investimentos, Valter Bianchi Filho explica que a desvalorização do real ganhou força com episódios recentes, como a frustração com o megaleilão do pré-sal em novembro. Na ocasião, o governo Jair Bolsonaro projetava arrecadar R$ 106,6 bilhões com a disputa, mas o resultado ficou aquém do esperado — R$ 69,9 bilhões, com amplo domínio da Petrobras.
— Havia expectativa de que viriam dólares com o leilão, mas o resultado ficou abaixo. Entrou pouco capital estrangeiro — reforça Bianchi Filho. — O dólar não subiu no Brasil devido ao Banco Central ser supostamente maquiavélico. Pelo contrário, a instituição tentou conter o avanço — acrescenta.
Na semana passada, manifestações do ministro da Economia, Paulo Guedes, também causaram ruídos no mercado financeiro e deram combustível extra à moeda americana, comenta o analista. Na Argentina, a desvalorização do peso é um dos reflexos da penúria econômica que atinge a população local. O país sofre com a escassez de reservas internacionais, calculadas em dólares, que servem como espécie de colchão de segurança contra choques financeiros.
— A manifestação de Trump mostra descolamento da realidade — diz Bianchi Filho.
Ao alfinetar os dois países da América Latina, Trump prometeu restabelecer tarifas sobre importações de aço e alumínio procedentes do Brasil e da Argentina. Analistas não veem lógica econômica na medida.
— A questão do aço e do alumínio pode ser uma estratégia dele para manter sua base eleitoreira. Trump é alvo de pedido de impeachment — aponta Bianchi Filho.
Economista-chefe da corretora Necton Investimentos, André Perfeito classificou o anúncio do presidente americano como "absolutamente intempestivo". Para Perfeito, a ação fez "reverberar sua retórica anti-globalista" e é "um golpe duro ao Palácio do Planalto", que via a Casa Branca como "aliada".
"Claramente, Trump não entende a natureza das desvalorizações do real e do peso", acrescentou, em nota, o economista.