Ao ameaçar que voltará a impor tarifas sobre as importações americanas de aço e alumínio do Brasil e da Argentina, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusou os dois países de desvalorizar "fortemente" suas moedas. Ignora, ou faz de conta que não sabe, que a alta do dólar ante o real e o peso argentino tem como uma das causas sua guerra comercial de estimação contra a China. E que os dois países, se pudessem, teriam moeda menos fraca. Até agora, porém, o tuíte da manhã desta segunda-feira (2) não passa de ameaça. Nenhuma medida concreta foi identificada por especialistas em comércio exterior.
– Muito desse efeito foi provocado pelo próprio Trump com as idas e vindas na guerra comercial – observa José Augusto de Castro, presidente da Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Em março de 2018, a imposição de sobretaxas entre 10% sobre alumínio e 25% sobre aço de quase todos os países exportadores foi uma das primeiras manifestações do aperto protecionista dos Estados Unidos sob Trump. Depois de algumas semanas, foram suspensas para alguns países, entre os quais Brasil e Argentina, em troca de um sistema de cotas – restrição de volume embarcado.
O empresário observa que, por enquanto, o tuíte ameaçador é apenas um "factóide", ou seja, não se conhece medida oficial restabelecendo sobretaxas para o aço exportador por Brasil e Argentina. Segundo Castro, uma das explicações para o destempero do presidente americano é a falta de avanços na tentativa de acordo com a China, que previa compra bilionária de produtos agrícolas dos EUA. Com o acordo União Europeia-Mercosul, a importação dos europeus deve se concentra exatamente na produção brasileira e argentina. Assim, os EUA poderiam perder clientes importantes. O gesto desta segunda-feira, portanto, seria uma retaliação, avalia.
– O acordo UE-Mercosul foi péssimo para os EUA. Criou uma espécie de reserva de mercado. Como resultado, o produtor americano começou a reclamar e quer aumentar os subsídios que já recebe – argumenta.
Trum também confunde Brasil e Argentina, que têm câmbio flutuante, ou seja, definido pelo mercado, com a China, que costuma manter sua moeda – renminbi ou iuan – artificialmente desvalorizada para que seus produtos fiquem mais competitivos no Exterior.
Entre as siderúrgicas brasileiras, a Gerdau seria a menos afetada caso a ameaça seja concretizada, porque a companhia tem unidades de produção nos Estados Unidos. A Ternium, antes conhecida como CSA, seria a mais prejudicada, porque exporta matéria-prima para os EUA. A mesma companhia também opera na Argentina, assim como as brasileiras Gerdau e Votorantim. No Brail, CNS e Usiminas também podem ser afetadas. Em nota, o Instituto Aço Brasil, que as representa, afirma ter recebido a notícia com "perplexidade", reforça que o país não manipula o câmbio e considera a medida uma "retaliação ao Brasil", já que Trump fala em "compensar" agricultores americanos.
Por ora, pondera Castro, o resultado do tuíte é mais insegurança para dois países que vivem situações delicadas, o que teria potencial para desvalorizar ainda mais peso e real. No final da manhã, a moeda americana no Brasil tem leve recuo de 0,4%, mas é cotada a um valor elevado, de R$ 4,22. O peso argentino, no mesmo momento do dia, está estável ante o dólar.