O anúncio de Donald Trump de que irá impor tarifas ao aço e ao alumínio comprados pelos Estados Unidos de Brasil e Argentina pegou os dois países sul-americanos no contrapé e ameaça colocar água no vinho dos governantes que estarão, nesta semana, no Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul, para a 55º Cúpula do Mercosul.
Primeiro porque a notícia, anunciada por meio de um tuíte na manhã desta segunda-feira (2), chega de supetão ao bloco econômico em momento de fragilidade em razão das divergências ideológicas entre o governo de Jair Bolsonaro e o presidente eleito argentino, o kirchnerista Alberto Fernández. Mauricio Macri está a sete dias de deixar a Casa Rosada e tudo o que disser durante a cúpula em Bento Gonçalves terá pouco valor. Fernández não virá — e pouco pode fazer antes de assumir além de emitir sinais de como será sua política externa, como tem feito ao dizer que buscará manter o diálogo com o Brasil, apesar das feridas da campanha eleitoral.
Brasil e Argentina são atingidos pelo petardo de Trump no momento de maior vulnerabilidade entre os dois vizinhos em décadas. Em março de 2018, quando a Casa Branca impôs sobretaxas exatamente iguais aos percentuais agora sugeridos por Trump, só houve recuo americano após um discurso afinado e uma frente alinhada entre os governos Macri e Michel Temer junto a Washington. Algo que, agora, não há.
O anúncio de Trump é a segunda medida americana contrária aos interesses brasileiros em menos de dois meses, levando até integrantes do governo a questionar o alinhamento entre o Palácio do Planalto e a Casa Branca alardeado publicamente por Bolsonaro e Trump. Em outubro, a agência de notícias Bloomberg informou que o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, não endossou a proposta do Brasil de ingressar na Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apoiando só as candidaturas de Argentina e da Romênia. Depois da divulgação da notícia, os EUA disseram que mantêm o apoio ao Brasil, mas não falaram em prazo.
Os sinais vindos de Washington reforçam a ideia de que a parceria entre o Planalto e a Casa Branca é uma via de mão única. Ao menos por enquanto.