Em meio às crises que abalam vários países da América Latina, o Uruguai deu exemplo de democracia e ponderação.
De forma serena, realizou a recontagem dos "votos observados", de eleitores que votaram fora de sua jurisdição no domingo (24). A checagem confirmou a vitória de Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional, que assumirá a presidência em 1º de março, colocando fim a 15 anos de hegemonia da Frente Ampla (esquerda). O processo ainda está em andamento, mas matematicamente, o resultado é irreversível.
Enquanto na Bolívia a eleição foi marcada por irregularidades que culminaram na saída forçada de Evo Morales e até hoje se discuta se foi ou não golpe, o Uruguai foi zeloso de seu processo eleitoral, mostrando maturidade de sua democracia. Não houve ameaças de um lado e outro, as forças armadas permaneceram nos quartéis e o resultado das urnas foi respeitado.
Mesmo que, nos bastidores, Lacalle Pou já estivesse preparando seu governo ao longo desta semana, fazendo a sondagem de ministros, houve respeito entre os adversários. Daniel Martínez, o derrotado, reconheceu o resultado da votação e da recontagem. E, em mais uma demonstração de maturidade democrática, anunciou que irá se encontrar com o adversário nesta sexta-feira (29).
A alternância de poder é saudável à democracia. A esquerda uruguaia, diferentemente da de outros países da região, como a Bolívia e a Venezuela, reconhece isso. Deixa o poder após uma década e meia de medidas progressistas que colocaram o país entre as nações mais modernas do globo.
No caso uruguaio, polarização (a diferença entre Lacalle Pou e Martínes foi de menos de 1 ponto percentual) não significou crise da democracia.
A definição do nome do novo presidente de centro-direita e a tranquilidade com que o processo foi concluído servem de exemplo aos demais parceiros do Mercosul, em especial às vésperas da reunião de cúpula em Bento Gonçalves, na semana que vem.