Mesmo em suspense pelo resultado apertado da votação de domingo, não se pode dizer que o Uruguai está em crise – ou colocá-lo no mesmo balaio das atuais insurreições latino-americanas. Primeiro porque a democracia uruguaia está consolidada. As pesquisas erraram? Sim e não. Não previram a diferença de 1,2 ponto percentual entre Luis Lacalle Pou e Daniel Martínez. Mas, na boca de urna, dois institutos já identificavam que a vantagem do Partido Nacional seria muito apertada. Três pontos não é uma margem segura. Segundo porque a contagem dos votos observados é algo habitual no Uruguai. Não é desorganização ou confusão. Trata-se de zelo.
Há polarização política? Há, e a margem apertada comprova. Mas o fenômeno é diferente do restante da América do Sul. Percebe-se isso pelas falas dos principais atores políticos. Ao votar, o presidente que deixa o poder, Tabaré Vázquez, da Frente Ampla, disse que não há drama se o partido perder e que a transição será tranquila.
Yamandú Orsi, assessor da campanha de Martínez, admitiu que é provável que o presidente seja Lacalle Pou:
– Até o militante mais aguerrido sabe que é muito difícil recuperar os votos observados ou absorver essa diferença. Uma derrota sempre traz dor, mas quando vem com uma expectativa de que perderíamos por quatro pontos e quase empatamos no final é um sinal forte. O presidente que for eleito, se for Lacalle como se supõe que vai acontecer, provavelmente será eleito com a menor porcentagem da história.
No campo internacional, a esquerda uruguaia também é diferente. Embora se oponha a medidas intervencionistas na Venezuela, não pode ser colocada no hall dos cegos fiéis do regime de Nicolás Maduro.
A direita também não é a mesma de Jair Bolsonaro ou Sebastián Piñera. Lacalle Pou já afirmou que, se eleito, não irá rever medidas progressistas implantadas nos últimos 15 anos – legalização do aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo e liberalização da maconha. Aliás, foi ele, enquanto parlamentar, que propôs o primeiro projeto sobre o uso da marijuana.
No domingo, quando números apontavam sua vitória, o candidato, temendo violência, pediu aos seguidores que comemorassem em suas casas. Isso se chama ponderação.