Um ciclo está prestes a se encerrar no Uruguai com a provável vitória da centro-direita na eleição deste domingo (24). A se confirmarem as pesquisas, o Partido Nacional deve voltar ao poder, após 15 anos de hegemonia da esquerda.
Nesse período, o Uruguai cresceu acima da média do continente e implantou uma agenda progressista, como a liberação do consumo de maconha com controle do governo, que levou a pequena nação vizinha a ser escolhida o país do ano pela The Economist, em 2013.
O Uruguai tornou-se o queridinho da esquerda mundial: o país do carismático José “Pepe” Mujica, “o presidente mais pobre do mundo”, que ia trabalhar de Fusca, e do ponderado Tabaré Vázquez, médico oncologista que, ironia do destino, luta contra um câncer no pulmão.
Mas o desgaste natural do poder veio acompanhado da polarização que incendeia a América Latina e do aumento da violência. Esses fatores devem levar à ascensão de Luis Lacalle Pou, segundo colocado no primeiro turno, que conseguiu unificar a direita para chegar com força ao ballotage.
O país é um dos mais estáveis do continente. E, claro, quando falamos em violência, é praticamente incomparável com a nossa realidade – mesmo a do Rio Grande do Sul. O Uruguai tem 11,8 assassinatos a cada 100 mil habitantes. Em nosso Estado, a taxa em 2018 ficou em 20,5.
O aumento da criminalidade é puxado pelo tráfico de drogas. A legalização da maconha produziu redução de parte do mercado ilícito, o que gera tensões pelo controle dos pontos de venda por parte de facções.
O segundo turno uruguaio deve provocar um novo arranjo de forças na região em que praticamente todos os países estão em crise – a Colômbia é o mais recente. Após a vitória do kirchnerismo na Argentina, a disputa entre direita e esquerda no Uruguai é acompanhada pelo Palácio do Planalto. Diante da derrota do lado de lá do Rio da Prata, a esperança em Brasília é de melhores notícias na margem de cá neste domingo.