Depois da vitória do kirchnerismo na eleição de 27 de outubro na Argentina, a disputa entre direita e esquerda pela presidência do Uruguai, que realiza segundo turno, neste domingo (25), ganhou atenção especial do governo brasileiro.
Se do outro lado do Rio da Prata, Mauricio Macri, preferido pelo Palácio do Planalto perdeu, do lado de cá, o presidente Jair Bolsonaro pode ter mais sorte.
O candidato de centro-direita à presidência, Luis Lacalle Pou (Partido Nacional), tem boas chances de encerrar o ciclo de 15 anos da esquerda no poder. As pesquisas mostram o político com 51% dos votos contra 43% do rival, Daniel Martínez (da Frente Ampla). Veja como cada um chega ao pleito.
Luis Lacalle Pou (Partido Nacional)
O candidato da centro-direita chega ao segundo turno como favorito para derrotar o rival, Daniel Martínez e encerrar 15 anos de governo da Frente Ampla no poder. Filho do ex-presidente uruguaio Luis Alberto Lacalle, o político foi deputado pelo Partido Nacional.
Em sua tentativa anterior de chegar à presidência, em 2014, ele perdeu no segundo turno para Tabaré Vázquez, o presidente que deixa o poder no fim do ano. No primeiro tuno em 2019, em 27 de outubro, Lacalle Pou conquistou 28,5% dos votos — contra 39,1% de Daniel Martínez. A virada no segundo pode-se dar por conta da união de setores de direita — o apoio do conservador Ernesto Talvi, da histórica legenda rival, o Partido Colorado, e do ultradireitista Guido Manini. Durante a campanha, o candidato usou a bandeira do combate à criminalidade para chegar a liderança nas pesquisas. Em outubro, Lacalle Pou rechaçou o apoio do presidente Jair Bolsonaro.
— Se eu fosse presidente da República, e tivesse uma eleição no Brasil, a última coisa que faria seria dizer quem eu prefiro que ganhe — disse o uruguaio, assegurando que não está de acordo com as afirmações de Bolsonaro.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Bolsonaro demonstrou preferência por Lacalle Pou, ainda que não o tenha citado. Na ocasião, o ministério de Relações Exteriores do Uruguai convocou o embaixador brasileiro em Montevidéu, Antonio Simões, para pedir explicações sobre as declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre a eleição no país vizinho.
Daniel Martínez (Frente Ampla)
Ex-senador e ex-prefeito de Montevidéu, o candidato sofre o desgaste natural dos 15 anos de governos de centro-esquerda. O aumento da criminalidade é visto por parte da população como efeito colateral de medidas liberalizantes implantadas durante os mandatos da Frente Ampla, como a legalização da maconha, que vem sendo implementada de forma lenta e gradual desde 2013. No governo Tabaré também foi aprovado um novo Código Penal que define penas alternativas para delitos de menor potencial ofensivo e redução de penas para combater a superlotação em presídios _ o que pode ter levado ao aumento dos furtos. Na campanha do segundo turno, Martínez tentou colar na popularidade de José "Pepe" Mujica, o ex-presidente que, após anunciar aposentadoria voltou ao cenário político e foi eleito senador aos 84 anos.
Martínez não é visto pela principal coalizão de esquerda como um grande líder tal qual Vázquez e o ex-presidente José "Pepe" Mujica. O desafio a ele aumenta porque, se eleito, ele terá de lidar com cisões dentro da própria Frente Ampla e com um Congresso bastante fragmentado. Se eleito, Martínez tem prometido buscar o diálogo com o governo brasileiro, apesar das divergências ideológicas.