Jair Bolsonaro decidiu romper a tradição de realizar dentro da América Latina a primeira visita internacional de um novo presidente brasileiro. Ao escolher os Estados Unidos como destino inicial, reforçou que deseja caminhar lado a lado com Donald Trump, o que tende a causar efeitos comerciais, diplomáticos e militares – para o bem e o mal.
Por ora, analistas ponderam que a magnitude dos impactos é incerta. Após três dias de agenda em Washington, Bolsonaro e sua comitiva aceitaram negociar benefícios para tentar turbinar parcerias e investimentos de americanos no Brasil.
— Foi a primeira visita do novo governo a um parceiro comercial importante. Muitas declarações da viagem representam intenções de medidas que podem ser adotadas no futuro. Os resultados não foram extraordinários, como integrantes do governo disseram, mas também não foram um desastre, como críticos apontaram — avalia o consultor Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior.
Na área econômica, uma das questões que repercutiram foi a sinalização de que Trump apoiará a entrada brasileira na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o que serviria para melhorar a imagem e atrair novos investimentos. Para ingressar na entidade, o governo brasileiro pretende abrir mão de benefícios em negociações dentro da Organização Mundial do Comércio (OMC), gerando ruídos entre empresários e analistas.
Entre as vantagens oferecidas por Bolsonaro aos americanos estão a isenção de visto para entrada no Brasil e a possibilidade de uso da base de Alcântara, no Maranhão, para lançamento de satélites e foguetes. Parte dos analistas questiona os benefícios negociados por causa da ausência de contrapartidas concretas dos Estados Unidos nesses pontos.
— Parece haver mais alinhamento de Bolsonaro e Trump do que de Brasil e Estados Unidos. Obviamente, as duas coisas andam juntas. Mas a distinção é importante. A impressão é de alinhamento entre os governos. Neste momento, existe uma troca de ações concretas do Brasil, como a liberação de vistos americanos, por sinalizações dos Estados Unidos – ressalta o pesquisador Livio Ribeiro, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Para o professor Creomar de Souza, do núcleo de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília (UCB), a viagem de Bolsonaro à nação comandada por Trump traduz “a nova dinâmica de poder no país”, “não sintonizada” com os antecessores no Palácio do Planalto.
— A avaliação geral da visita é de que foi positiva. O governo tinha o objetivo de construir uma aproximação maior com o governo dos Estados Unidos. Isso me parece que foi alcançado – relata Souza.
Depois do encontro com Trump, Bolsonaro retornou ao Brasil e, na quinta-feira, viajou ao Chile. A agenda do presidente no Exterior deverá ter novos capítulos no fim deste mês, quando embarcará para Israel. No segundo semestre, espera-se que Bolsonaro viaje para a China. Os asiáticos são os principais parceiros comerciais do Brasil e vivem período de tensão no mercado internacional com os Estados Unidos.
Confira o que dizem especialistas sobre os principais temas:
De um lado, analistas observam benefícios. de outro, preocupações com o que foi cedido de antemão.
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