Não foram apenas as declarações do presidente Jair Bolsonaro que chamaram atenção na comitiva brasileira que visitou os Estados Unidos. Em discurso a investidores, o ministro da Economia, Paulo Guedes, sinalizou que o país não terá envolvimento na guerra comercial dos americanos com a China, principal destino das exportações verde-amarelas.
Guedes também ressaltou que o Brasil está aberto a receber mais investimentos americanos, sem deixar de fazer negócios com os asiáticos. Mesmo com a tentativa do ministro de evitar desgaste com os chineses, analistas temem que a aproximação dos americanos possa provocar algum tipo de ruído no maior parceiro comercial brasileiro.
— Por mais que se tenha o discurso de neutralidade, a situação não é bem assim. O presidente Bolsonaro foi até os Estados Unidos em um momento de relação nebulosa entre americanos e chineses. O modelo chinês é de reação em silêncio. Por exemplo, a China vem sendo prejudicada pelo surto de peste suína africana. O Brasil acabou de pedir liberação para mais frigoríficos conseguirem exportar para lá, mas a homologação foi negada. Pode ser uma estratégia dos chineses de dizerem: “Venham até aqui e vamos conversar” — aponta o economista Marcos Tadeu Caputi Lélis, professor da Unisinos.
Em 2018, a China manteve o posto de principal destino das exportações brasileiras, com destaque para a soja. De janeiro a dezembro, os embarques ao país asiático somaram US$ 64,2 bilhões, correspondentes a 26,8% do total, indicam dados do Ministério da Economia.
No mesmo período, as exportações para os EUA alcançaram US$ 28,77 bilhões, 12% do total. Ou seja, menos da metade do que foi embarcado para os asiáticos. Os americanos são o segundo principal destino das vendas brasileiras.
— Não acho que a aproximação dos Estados Unidos terá impacto na área comercial do Brasil, só que eventuais críticas à China podem afastar investimentos do país. Esses aportes têm importância principalmente na área de infraestrutura — pondera o consultor Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior.
Presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro avalia que a simpatia demonstrada pelo governo Bolsonaro em relação aos americanos não abalará diretamente as relações comerciais com a China.
Mas aponta para ruídos nas ligações diplomáticas com os asiáticos.
— A China não tem alternativa de onde comprar no mercado internacional. Seus dois grandes fornecedores são Estados Unidos e Brasil. Mas é claro que a política de boa vizinhança com os chineses fica abalada — explica Castro.
De um lado, analistas observam benefícios. de outro, preocupações com o que foi cedido de antemão.
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