A visita do presidente Jair Bolsonaro a Donald Trump plantou discussão que envolve o agronegócio. Um dos principais pontos no setor é o anúncio que permite aos EUA a exportação anual de 750 mil toneladas de trigo com tarifa zero (equivante a 11% do que o Brasil importa). No Mercosul, quando o cereal é importado de fornecedores que não integram o bloco, há tributação de 10%.
Segundo analistas, a decisão poderá ter efeitos nas relações do governo Bolsonaro com a Argentina, já que os vizinhos são os responsáveis pela maior parte do trigo importado pelo Brasil. Em 2018, as compras do cereal argentino alcançaram US$ 1,3 bilhão. A quantia correspondeu a 87% de todas as importações da mercadoria, indica o Ministério da Economia.
— A cota aos americanos fere a Argentina. Isso pode fazer com que Buenos Aires compre menos do Brasil. Devemos ter todo o interesse em deixar a Argentina forte — afirma o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.
Integrantes do governo argentino já demonstraram preocupação em torno da medida. Apesar disso, o diplomata José Alfredo Graça Lima, coordenador do Núcleo de Comércio Internacional do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), considera positivo o benefício aos EUA.
— A importação de trigo é uma necessidade do Brasil. Comprá-lo mais barato vale a pena – diz.
O encontro entre Bolsonaro e Trump também serviu para os dois governos “acordarem condições para permitir a importação de carne de porco dos Estados Unidos”.
— Isso não teria grandes impactos para o Brasil porque somos bem competitivos no setor de suínos, e os americanos têm outros destinos assegurados. Significa mais um gesto de abertura para eles — relata o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra.
Segundo comunicado divulgado após o encontro de Bolsonaro e Trump, os Estados Unidos concordaram em agendar uma missão sanitária para inspecionar condições de produção de carne bovina no Brasil. Após os trabalhos, os americanos devem decidir se reabrem ou não o mercado para importação do produto brasileiro. Presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Antonio Jorge Camardelli considera positivo o desfecho da visita:
— A ministra (Tereza Cristina, da Agricultura, que participou da comitiva a Washington) não voltou com a decisão de liberar a exportação porque legalmente não era possível. Como o Brasil está suspenso há mais de um ano, a legislação local recomenda que seja feita visita técnica.
De um lado, analistas observam benefícios. de outro, preocupações com o que foi cedido de antemão.
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