Enquanto Jair Bolsonaro ouve Steve Bannon e sua tese sobre os riscos da “codependência” da China, os empresários brasileiros projetam a conta do resultado esperado pelos americanos na guerra comercial mantida com o país asiático. José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), lembra que, caso os EUA vençam a batalha das tarifas, os chineses passarão a comprar US$ 30 bilhões anuais em produtos agropecuários – soja, milho e carne, principalmente – dos Estados Unidos. O maior afetado será o Brasil.
Nos últimos 11 anos, o comércio com a China só provocou déficit para o Brasil (quando importamos mais do que exportamos) em 2008, ano do estouro da crise mundial. Nos demais, houve superávits “supersólidos”. E, no ano passado, as exportações aumentaram 35,4%, segundo Castro por aumentos expressivos nos embarques de soja (de US$ 20,3 bilhões para US$ 27,3 bilhões), devido à frustração de safra na Argentina, de petróleo (de US$ 7,3 bilhões para US$ 14,3 bilhões), por aumento na cotação e acordos bilaterais, de celulose (de US$ 2,6 bilhões para US$ 3,5 bilhões) e na carne bovina (de US$ 929 milhões para US$ 1,5 bilhão).
Mesmo lembrando que a postura anti-EUA nos governos Lula e Dilma tenha impedido missões comerciais ao país que imprime dólares, Castro lamenta que, nesta oportunidade, o governo Bolsonaro não tenha incluído nenhum empresário brasileiro na equipe. Acrescenta que há preocupação com o tom da conversa do Ministério das Relações Exteriores:
– O governo Bolsonaro não queria ideologia na economia, mas infelizmente o ministério não tem a lógica do setor empresarial. Estamos ouvindo muito, mas não estamos participando muito, não.
A declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que o Brasil não precisa reduzir sua exposição à China, mas “comercializar com todo mundo”, foi um alívio para exportadores nacionais. Agora, só esperam que essa visão prevaleça.